terça-feira, 27 de novembro de 2007

De norte a sul o Memória Carris leva sua história aos porto-alegrenses


<><> Falta menos de um mês para o Natal. Dei-me conta disso ontem (26/11), enquanto visitávamos o Associação Cristã de Moços, na Zona Norte. Muitas vezes, na correria do dia a dia, perdemos a noção do passar do tempo e, quando refletimos sobre isso, levamos um susto. Quem trabalha com história é geralmente nostálgico em relação ao que se passou, costumo brincar que historiadores normalmente pensam e refletem mais sobre os problemas da história que os do seu próprio tempo. Contudo, esse saudosismo faz parte de todas as gerações e aumenta conforme o tempo passa.
<><>O sentimento em relação ao passado muda conforme a idade daqueles que têm contato com ele. É interessante refletir sobre essas questões quando se “leva” a história aos diferentes pontos da capital, para pessoas diferenciadas, com trajetórias de vidas desiguais. Os mais novos têm em relação ao fatos que já aconteceram um sentimento de curiosidade, já os mais velhos demonstram uma sensação de nostalgia, de saudade dos “áureos” tempos. Para as crianças e adolescentes conhecer a história dos bondes é ter contato com algo que não viram, que se distancia deles, mas que, pelo aspecto curioso, desperta a atenção. Já para os que andaram de bonde é reviver uma realidade que já não existe, mas que está presente em suas lembranças, em sua memória e trajetória de vida.
<><>Ontem, como já mencionei, estivemos no ACM, localizado na Zona Norte da capital. O interessante é que sexta feira (23/11), em nossa última visita da semana, fomos a uma escola no Pôr do Sol, bairro localizado próximo ao Belém Novo, extremo sul da capital. Um dia na zona sul, outro na zona norte, o Memória cruza a cidade nessa contínua troca de conhecimentos. Inclusive na sexta-feira recebemos a visita do pessoal da Rede Internacional de Televisão que nos acompanhou na visita à escola e à história da empresa, pois conversamos mais de uma hora sobre a história da Carris. Acima uma foto do pessoal, que fez um passeio com o Memória pela memória.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Afinal, bonde ou trem?


<><>O Memória Carris possui em seu interior uma réplica de bonde que anda sob os trilhos. Modelo Gaiola, como foi apelidado pela população nos tempos dos bondes elétricos, ele faz a alegria da garotada, que acompanha o andar do veículo. Contudo, o mais engraçado é que depois de ouvir muitas explicações sobre bondes em Porto Alegre é comum as crianças apontarem o dedo para o bondinho “Partenon” com muita alegria, gritando: - Olha, o trem! Geralmente eu olho para elas e pergunto: - Trem? Algumas respondem rapidamente: -Não, o bonde. Outras me olham sem entender porque erraram.
<><>O certo é que por filmes a imagem do trem é, de certo modo, mais marcante que a dos bondes. Quem nunca viu aquelas imagens dos trens correndo nos campos, pessoas esperando nas estações, etc? No entanto, para aqueles que viveram as transformações urbanas na capital gaúcha, o bonde não faz somente parte da história da cidade, mas faz parte de sua própria vida. Pelas linhas de bonde a cidade se desenvolveu e, por isso, a ligação com a capital é intrínseca, pois o bonde, como coloquei na outra postagem, era o próprio símbolo da modernidade nas ruas.
<><>As semelhanças entre bondes e trens são muitas, ambos correm sobre os trilhos e são movidos a tração elétrica. Contudo, o bonde geralmente tem sua malha viária no mundo urbano, embora algumas cidades rurais tenham usado o bonde durante alguns anos. Além disso, o bonde tem um aspecto “mais íntimo” que o trem, mais ligado ao dia a dia da população urbana. O trem andava geralmente no campo, cruzando cidades em alta velocidade, já o bonde cruzava a malha viária urbana em velocidade mais baixa, inclusive, alguns contam, que era possível cumprimentar as pessoas que passavam pela rua e observar o movimento da cidade. O bonde virava a esquina, subia ladeiras, levava no colégio e trazia para casa, tudo muito familiar, envolto numa época em que Porto Alegre ainda tinha “ares” de cidade pequena. Viajar de trem, no entanto, era um evento, significa, na maioria das vezes, ficar alguns dias fora de casa e desembarcar em estações que ficavam distantes de onde se partiu.
<><>Em 1874 iniciu o serviço de trens na, hoje chamada, “região metropolitana”, entre a cidade de São Leopoldo e Porto Alegre, o objetivo era transportar os produtos do Vale dos Sinos à capital gaúcha. No século XX, a linha férrea alcançaria Taquara e posteriormente Gramado e Canela. Hoje existe em São Leopoldo o museu do trem que guarda parte dessa memória do transporte viário na grande Porto alegre. Site do museu: http://www.sindileo.com.br/m_trem.html
<><>Já os bondes circularam somente no perímetro urbano, deles voltaremos a falar em outras postagens. Acima a foto de nosso famoso bondinho Partenon, que tanto alegra a criançada em nossas “andanças” por Porto Alegre.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

No labirinto das palavras: as idas e voltas do progresso e outras palavras



<><>Sempre gostei de pensar na semântica das palavras. Com o passar do tempo, os significados de determinadas palavras podem mudar, às vezes até completamente, mas elas permanecem as mesmas ao longo dos anos. Também é interessante observar-se como são mutantes os significados quando determinada palavra entra para o “vocabulário popular”.
<><>Progresso é uma dessas palavras que sofreu tantas mutações de significado que seria quase impossível descrever sua “evolução”. No final do século XIX, quando chegaram em Porto Alegre os bondes a mula, eles representavam o progresso nas ruas da capital A cidade estava evoluindo, lá estavam os trilhos como prova incontestável. No dia da inauguração, em 1873, estavam presentes as autoridades políticas, curiosos e pessoas entusiasmadas com a novidade. Inclusive, nesse primeiro dia, o bonde foi puxado por um par de cavalos. Os trilhos formatavam as ruas, demarcavam os primeiros bairros e davam contorno a cidade, que adquiria um caráter urbano. O novo transporte estava ligado à idéia de cidade asseada, bem organizada e com desenvolvimento tecnológico.
<><>É claro que as mutações de significado estão relacionadas com o contexto em que as palavras são produzidas e também modificadas. Quando determinado termo é usado o que se tem em mente é o significado dele em relação à experiência daquele que utiliza a palavra. Explicando melhor, quem falava em progresso na chegada dos bondes a Porto Alegre, relacionava o novo transporte com sua experiência anterior de deslocamento até o centro, por exemplo, quando o percurso podia demorar até um dia inteiro. O desenvolvimento dos bairros (antigos arraiais) estava ligado a expansão das linhas de bonde pela cidade. Não é por acaso, por exemplo, que o bairro mais antigo da capital, Menino Deus, é o primeiro a receber a linha do novo transporte.
<><> Cem anos depois, no entanto, os bondes deixariam de circular em Porto alegre, mais uma vez, em nome do progresso. Os bondes prejudicavam, por seus trilhos, o andar dos novos ônibus e causavam transtorno por causa da utilização da energia elétrica. O mesmo progresso, mais uma vez, usado como justificativa. Na próxima postagem continuo falando sobre as palavras.
<><> A foto acima é do bairro Menino Deus, primeiro arraial a receber a linha de bonde já na sua inauguração.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Pequena Retrospectiva




<><>Hoje (01/11), faltam exatamente dois meses para o final do ano, nessas últimas semanas costumamos fazer uma retrospectiva do ano que passou e das expectativas para o que está vindo. Nós, do Memória Carris, estamos com a agenda fechada para os próximos dois meses e a sensação é que o tempo passa cada vez mais rápido em direção ao final do ano.
<><>O nosso ano tem sido intenso, num contínuo andar pela cidade, conhecendo suas diferentes regiões, públicos e interligações. Levar a história da cidade para seus moradores é um encontro de vivências indescritível, uma troca de conhecimentos que gera novas formas de visão sobre si mesmo e sobre lugar onde se vive. Levar toda essa história dentro de um ônibus não deixa de ser representativo, pois esse veículo pode ser considerado hoje símbolo do transporte público, já que o Brasil há muito tempo voltou-se principalmente às rodovias. Contudo, talvez “levar” não seja o termo mais correto, pois há sempre uma troca de vivências, expectativas e informações, nós também recebemos conhecimentos daqueles que não necessariamente são escritores da história, mas são seus protagonistas.
<><>Ontem (31/10), estivemos na escola David Canabarro, no bairro Rubem Berta, zona Norte de Porto Alegre. A escola também estava em clima de festa, já que ontem era a inauguração dos jogos de educação física. Em meio ao lindo dia ensolarado, os alunos puderam compartilhar um pouco sobre a história da Carris e da nossa capital. Ver os bancos de bonde, a aparelhagem que fazia parte dos antigos veículos e ver as fotos antigas faz com que a história se torne mais acessível, não mais separada pelo abismo temporal que geralmente nos separa dela. É uma forma indireta de “tocar” na história, senti-la e vivencia-la, dentro de um ônibus.
<><> A foto que aparece acima é da festa da criançada na Cristovão Colombo e o menino que aparece com a câmera é o suposto "cinegrafista" responsável pelo divertido vídeo do Memória colocado no youtube (pegamos você, hein? Brincadeirinha, adoramos a sua iniciativa), http://br.youtube.com/watch?v=j8U543q45yo.