quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Retrospectivas do Memória em 2007


<><>São os últimos dias do ano e crescem nas ruas as expectativas para 2008. Contudo, é hora de refletir sobre o ano que se passou. É comum, nesta época, retrospectivas não só na televisão, mas na vida pessoal também. Se alguns planos não foram executados, outros tiveram êxito e fizeram-nos alcançar crescimento pessoal e profissional. São os momentos propícios a superstições, crenças e rituais, tudo é válido para que o ano novo traga bons presságios. Por mais que o ano que está indo tenha sido difícil, complicado, a esperança sempre vai no sentido de que o novo será melhor, trará novos rumos e novas expectativas.
<><>Nós, do Memória Carris, passamos um ano cheio de atividades, percorrendo quase diariamente as ruas da capital, levando e trazendo as histórias da Companhia Carris e da capital. Somamos experiências, conhecimentos e múltiplas trocas de carinho, de memórias e de histórias. É hora de fazer um balancete do ano e mapear os caminhos do Memória por Porto Alegre. Em cada escola, instituição ou evento conhecemos novas pessoas e promovemos uma riquíssima troca de experiências e trajetórias.
<><>Neste ano visitamos um total de 145 instituições, entre escolas, eventos, creches comunitárias, associações, etc. Os colégios estaduais foram os que mais receberam a visita do museu, tendo no primeiro semestre somado 42% das visitas e no segundo 60%. Em segundo lugar ficaram as escolas particulares, que receberam 22% das visitas. Durante o ano, um total de 24.738 pessoas visitaram o museu da Carris na capital gaúcha. As zonas mais visitadas variaram no primeiro e segundo semestre. No primeiro, a zona norte recebeu 49% das visitas; e, no segundo, a zona sul recebeu 47 %. O Memória esteve presente nas “pontas” de Porto Alegre, tanto do lado sul como do norte. Visitamos muitas vezes o Belém Novo, que é o último bairro da zona Sul, e no norte, o Rubem Berta, que faz divisa com Alvorada.
<><>Cruzar a cidade proporciona-nos uma visão inovadora e diferenciada, já que as capitais costumam ter seus “nichos sociais” diferentes de acordo com o perfil urbano. Além disso, pelo fato de ser um ônibus, o Memória consegue ir a lugares onde as pessoas não tem acesso a esse tipo de evento cultural. Acima um gráfico das instituições visitadas durante o ano.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Novidades

<><> A Página do pesquisador Allen Morrison, disponível até agora em inglês na internet, foi recentemente traduzida por João A. Rodrigues. Dispomos a partir de agora dessa excelente fonte de pesquisa em português, o que contribui para enriquecer o trabalho daqueles que estudam e se interessam pela história dos bondes em Porto Alegre.
A página está também entre os links favoritos: http://tramz.com/br/pa/pap.html

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

As riquezas por trás das fotografias


<><>Olhar fotos antigas desperta sensações diferentes de acordo com o observador. Um historiador pode passar um dia todo analisando uma imagem, tentando tirar dela traços de uma época. Além das características principais, como local, pessoas e vestimentas, observáveis no primeiro momento, há uma tentativa de captar impressões, olhares, enfim, o cotidiano de uma época que se passou, mas que deixou seus rastros: as fotografias. Uma foto pode dizer muitas coisas, especialmente no que diz respeito à vida privada das pessoas, muito em voga na historiografia hoje, mas que geralmente não consta nos livros tradicionais de história.
<><>Contudo, para a maioria dos que hoje desfrutam das facilidades das fotografias digitais, as fotos antigas, geralmente em preto e branco, são distantes de sua realidade e de sua vida. Observo essas reações quando as pessoas olham as fotos expostas no Memória. Geralmente, os mais jovens passam rapidamente, sem se deter aos detalhes das fotos e as sensações do passado retratadas em cada uma delas. É necessário fazer com eles um exercício de observação para que possam perceber a riqueza escondida em cada foto, muitas vezes imperceptível ao primeiro olhar.
<><>São inegáveis as facilidades das câmeras digitais atuais. Elas dispensaram a revelação, já que a maioria armazena suas fotos no computador, além de aumentarem em muito a quantidade de fotos que é possível tirar. No entanto, algumas coisas foram perdidas, como a sensação de receber o envelope lacrado com as fotos tiradas no último aniversário, festa, etc. Apesar da maioria das pessoas tirar mais fotos que há alguns anos atrás, a sensação de expectativa pela chegada das fotos perdeu-se. Ganhamos em muitos aspectos, talvez tenhamos perdido em outros, como tudo, quando a modernidade chega.
<><>A Carris tem um considerável acervo de fotos que eu pretendo digitalizar nesses meses de férias do Memória. Nelas, talvez o mais interessante seja a visão que nos passam do cotidiano da empresa há anos atrás. Há fotos de motorneiros com seus respectivos uniformes, outras do escritório da sede antiga (na João Pessoa), do consultório médico, etc. As fotos são um campo riquíssimo a se explorar e eu não tenho a menor dúvida que é possível escrever uma história para a Carris a partir se suas fotos. A foto acima é do antigo consultório médico da empresa com a máquina de raio-x.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

MO - TOR - NEI - RO


Essa é a última semana de atividades de 2007 no Memória Carris. Na segunda, visitamos a escola Leonardo da Vinci Alfa, no bairro Rio Branco, e na quarta visitaremos a mesma escola no bairro Cristal. O clima dos colégios já é de férias escolares e de término das atividades. Com o fim de ano se aproximando e os dias contados para o sonhado descanso, alguns se sentem à vontade para comemorar e curtir os últimos momentos do ano com os colegas.
<><>Ontem (17/12), no colégio no bairro Rio Branco, durante a explicação aconteceu algo engraçado. Sempre quando explico como funcionavam os bondes elétricos, faço as crianças pensarem como será que se chamava aquele que dirigia o bonde. As respostas são diversas: motorista, maquinista, etc. Depois que elas descobrem o nome, diferente e estranho, pelo qual chamava-se o profissional, acham divertido ficar repetindo entre si a palavra: MO-TOR-NEI-RO. Algumas vezes, quando passo pelos corredores dos colégios, por qualquer motivo, é comum uma criança gritar em minha direção: motorneiro! Semana passada, na Casa da Criança (07/12), um menino se escondia atrás da escada enquanto eu subia e gritava o nome do profissional. Bem, são coisas pitorescas e engraçadas que acontecem no dia-a-dia em contato com os pequenos. Ontem, no entanto, uma menina tentando adivinhar o nome do profissional de bonde disse-me: bondeiro! Foi engraçado e toda turma riu muito, mas eu respondi que teria lógica, talvez até maior da razão porque o nome dele seja motorneiro.
<><>Em minha procura na internet, a única explicação que encontrei é que seria pela razão da junção de duas palavras: motor e torneira. Motor, tem a ver com o bonde mesmo, mecanismo inserido na parte inferior do veículo. Já torneira teria a ver com o acelerador, que funcionava por uma manivela, lembrando uma torneira.
<><>Ser motorneiro não era simples. Muitos não queriam, devido às responsabilidades exigidas. Os exames eram rigorosos, assim como o treinamento. Em alguns sistemas, inclusive, o iniciante fazia o treinamento em pleno tráfego, acompanhado de um motorneiro experiente. Não havia, portanto, veículos especiais para o treinamento, como ocorre nos ônibus hoje.
<><>A foto acima é do uniforme do motorneiro que fica dentro do Museu Memória Carris.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Por que o bonde se chama “bonde”?

<><>Ontem (12/12), visitamos a escola Monteiro Lobato, no bairro Boa Vista em Porto Alegre. Enquanto atendia uma das turmas uma criança da terceira série me perguntou: - Mas, por que bonde? Fiquei entusiasmada com a pergunta, pois a resposta remete a pensar sobre as próprias palavras e como elas entram para o “vocabulário popular”.
<><>A palavra bonde surgiu por volta de 1870, quando havia iniciado o serviço desses veículos no Brasil. A passagem custava então 200 réis. Como não havia moedas com esse valor em circulação, as empresas começaram a emitir cupons (bilhetes), com cartela de cinco unidades, já que a moeda de mil réis circulava em grande quantidade. Os bilhetes, impressos nos Estados Unidos, foram chamados de bonds, que significa bônus, ação. Os bilhetes tornaram-se também uma espécie de “moeda corrente”, podendo ser usados como troco em alguns estabelecimentos comerciais. Na Carris os bilhetes eram vendidos numa das salas do Mercado Público, onde localizava-se na época o escritório da empresa.
<><>O termo bonds teria se originado da denominação das ações do império no exterior. A imprensa noticiou as ações e as pessoas passaram a relacionar com os bilhetes do Carris de Ferro. Por neologismo os veículos passaram a denominar-se bondes.
<><>Os veículos em inglês são denominados tramway, que significa “caminho do tram”, designando uma linha férrea urbana. Uma linha de tramway destina-se ao tráfego de tram. Portanto, embora chamado de tramway, o nome do veículo é tram. No Brasil, inicialmente, a palavra tramway designava todo o conjunto, a linha (trilhos) e o veículo. Mais tarde o veiculo (tram) passou a ser denominado Diligência por Trilhos de Ferro, depois Carril de Ferro e finalmente Bonde. Já a palavra tram é oriunda da contração da palavra trammer, que em 1860 era traduzida para o português como vagão miuçalheiro, designador de um carregador de pequenos fragmentos. Na mineração a vagoneta usada era chamada trammer, essa palavra designava, portanto, o conjunto, vagoneta e trilhos. No site http://br.geocities.com/bonde103/eti.html é possível encontrar mais informações sobre a etimologia das palavras designadoras da malha viária e dos veículos.
<><>Na foto acima, nosso tram na praça XV, ponto tradicional de Porto Alegre.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Final de ano cheio de experiências




<><>Já estamos na contagem dos dias para a virada de ano. Nesses momentos não faltam esperanças, desejos e alegrias. É a época em que as pessoas ficam mais alegres, envoltas no “espírito natalino”. Há uma maior preocupação com os outros e uma sensação de renovo, mesmo em meio às correrias de final de ano. Afinal, a vida não é feita só de trabalho e de cotidiano, todos precisamos desse eterno renovar, que nos dá força para continuar. Andando com o Memória pela cidade é possível sentir esse clima de alegria pela chegada do final de ano, da esperada férias e do ano novo.
<><>Semana passada visitamos uma escola na Ilha das Flores, Oscar Schmitt. É incrível como o Memória propicia a nós, que trabalhamos nele, experiências tão enriquecedoras no sentido social, educacional e humano. Certamente se não fosse pelo museu eu jamais iria visitar a Ilha das Flores, que ficou tão famosa com o documentário produzido anos atrás (1989), por Jorge Furtado. Uma cidade como Porto Alegre, com ares de metrópole, costuma criar certos nichos sociais, zonas de concentração de riqueza ou de exclusão social. Algumas regiões das ilhas são marcadas por essas questões, estão distantes do centro e geralmente não têm acesso à saúde, educação e cultura. Embora alguns alunos não morem na ilha, a maioria deles vive ali e não visita o centro, a menos que se organize um passeio com a escola. Portanto, levar a história do transporte na capital ajuda-os a construir uma identidade de porto-alegrense, embora “ a cidade” esteja, muitas vezes, distante de sua realidade.
<><>O interesse deles pelo Memória e o retorno que recebemos em termos de carinho e valorização é de se salientar. Muitos ficaram empolgados com a Porto Alegre antiga e com as riquezas dessa. Fiquei encantada com alguns meninos que trabalham desde cedo na reciclagem do lixo, mas que nem por isso se sentem vítimas da situação, antes têm dentro dos olhos uma certa maturidade que eu não saberia descrever, muito fruto das experiências que tiveram.
<><>No final de semana o Memória continuou em atividade, visitando dessa vez a feira de saúde na Hípica. Passamos o dia lá levando a história da Carris à Zona Sul da capital. Minha sincera homenagem aos profissionais que trabalharam no evento e que lutam dia após dia pela saúde pública no Brasil. A foto acima é do pessoal que organizou o evento. O agente comunitário que está no meio da fotogrfia foi funcionário da Carris, Cleiton.