sexta-feira, 28 de março de 2008

Encontros no Memória


<><>O Memória voltou a percorrer nesse ano as ruas da nossa capital. No ano de comemorações históricas -100 anos de bonde, 20 anos de Memória, entre outras, - o museu continua em constante contato com as escolas e eventos, promovendo uma gostosa troca de memórias e históricas. No entanto, podemos dizer que nos últimos dias a troca não se deu só entre nós e o público que nos visita, mas entre os que trabalham e trabalharam no projeto.
<><>Na última quarta feira (26/03), visitamos o Colégio Caio Prado Junior, no Bairro Menino Deus. Nele encontramos a ex-monitora do Memória, Roberta Durán. Ela trabalhou na Carris durante os anos de 2005 e 2006. Ano passado (2007), em fevereiro, eu iniciei no projeto. O encontro foi alegre e nostálgico para Roberta, que tanto conviveu com os pequenos (ou não tão pequenos assim), em seu tempo na empresa. Ela entrou no ônibus enquanto eu respondia as perguntas dos alunos, já na parte final da visita. Segundo ela, foi como se passasse um filme por sua cabeça, das escolas e dos encontros dentro do museu. Já conhecia Roberta, fomos colegas na faculdade, no entanto foi a primeira vez que nos encontramos em uma visita.
<><>Contudo, quem conviveu com a Roberta e convive comigo hoje é o Chefia, apelido carinhoso do motorista do museu, Eloy da Silva Barcelos. Chefia trabalha há muito tempo no Memória e trata o ônibus com muito afeto e dedicação. Responsável pela parte da manutenção do veículo, ele conhece as ruas da Capital como poucos e já visitou a maior parte das escolas de Porto Alegre. Quando chegamos numa escola, enquanto eu organizo as turmas e falo com a direção da escola, Chefia estaciona o ônibus e faz a instalação elétrica. Além disso, cuida para que o nosso amado bondezinho esteja em perfeitas condições e possa protagonizar a alegria para a criançada. Carismático e apaixonado pelo que faz, nosso motorista virou até personagem de revista em quadrinhos. Grande alegria os pequenos têm ao perceber que quem dirige o ônibus é o protagonista do pequeno livrinho. Geralmente eu pergunto aos pequenos se essas figuras do gibi existem. Enquanto alguns me dizem que não, os mais atentos apontam entusiasmados para Chefia e chegam a dizer que é “igualzinho” à figura, com suspensório e crachá. Na saída, as crianças de despedem aos beijos e abraços, retribuindo-lhe toda dedicação e trabalho.
<><>Na foto acima, Roberta, Chefia e eu em frente ao nosso querido Memória, personagem marcado nas ruas da capital. Abaixo link da reportagem referente aos 20 anos do museu, publicada no Diário Gaúcho. No próximo domingo estaremos no Brique da Redenção, em comemoração ao aniversário do local e da capital gaúcha.
http://www.clicrbs.com.br/jornais/diariogaucho/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&edition=9489&template=&start=1&section=&source=a1798211.xml&channel=65&id=&titanterior=&content=&menu=173&themeid=&sectionid=&suppid=&fromdate=&todate=&modovisual=

segunda-feira, 24 de março de 2008

Para onde foram os bondes?


<><>Uma das perguntas mais freqüentes no trabalho com a história dos antigos bondes é onde eles foram parar. Após o dia 8 de março de 1970, o que se fizeram com os veículos? O fim dos bondes trouxe, para os que tanto os amavam, um misto de saudosismo e tristeza pelo fim de uma era. Porto Alegre convivera mais de 100 anos com os elétricos e sua substituição por ônibus marcava, para os contemporâneos, o fim de uma época nostálgica e familiar nas ruas da Capital.
<><>Alguns bondes foram vendidos como ferro-velho devido ao estado em que se encontravam. Muitos bondes foram doados a instituições públicas, principalmente escolas, onde eram utilizados para diferentes funções. Em alguns bairros na zona sul da capital, por exemplo, já ouvi relatos de turmas que tinham aulas dentro dos veículos. No entanto, o mais comum era os bondes servirem como refeitório aos alunos. No Colégio Anchieta ainda hoje existe o veículo, servindo como escritório para o transporte escolar. Pelos relatos que já recebi, as instituições de ensino foram as que mais receberam bondes para serem utilizados em diferentes atividades, ou simplesmente para ficarem no pátio da escola, para “a festa” na hora do recreio.
<><>Atualmente sabemos da existência de poucos bondes. Na polícia de trânsito (DPTRAN) existem dois bondes, modelos Osgood Bradley, que servem como arquivo e atendimento de ocorrências. O segundo, inclusive, foi recentemente reformado. Hoje ele atende as ocorrências criminais e tem internamente uma estrutura adaptada para isso. Há um bonde no Museu Joaquim Felizardo, modelo Brill-113- contudo, esse não tem função definida no local. Na Cia. Carris temos um “modelo irmão” do que o museu possui, numerado 123, onde funciona o Sacc (Sistema de Atendimento ao Cliente Carris). No Pampa Safári, em Gravataí, há quatro elétricos que ficam em exposição no parque. Foram eles os vistoriados pela equipe responsável pela execução de uma linha turística na capital.
<><>Alguns amantes dos antigos veículos os compraram em leilões e os têm em suas residências. Outros adquiriram bancos ou objetos que fizeram parte do funcionamento dos bondes. Coloquei acima um cartaz referente ao leilão de bondes em São Paulo. No entanto, o que me inspirou escrever sobre isso foi o artigo do jornalista e publicitário J. A. Moraes de Oliveira no site Coletiva.net, disponível em http://www.coletiva.net/artigosDetalhe.php?idArtigo=1404.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Duas décadas de Memória carregando 135 anos de história



<><>Esse mês, o Museu Itinerante Memória Carris está em festa. Amanhã ( 18 de março), comemoramos 20 anos de criação, pelo decreto 9.125 em 1988. O objetivo, segundo o decreto, era a conservação, restauração e divulgação dos documentos da empresa. Além disso, visava-se permitir aos estudantes, pesquisadores e historiadores um acesso fácil ao arquivo da empresa. No início, a Memória Carris localizava-se numa sala nas dependências da empresa. O local era o Centro de Treinamento (galpão), onde hoje é o refeitório. A visitas das escolas eram semanais e monitoradas. O museu era então supervisionado pela Secretaria da Cultura, através do Museu de Porto Alegre.
<><>Além da sala, localizada na sede da companhia, já existia um ônibus com uma exposição sobre a história da empresa. Segundo o jornal interno da Carris na época, o Transviário (o nome do jornal era referência aos profissionais de bonde), a sala do Memória recebia escolas segundo agendamento das 14 h às 16 h. Sobre o ônibus da época não possuímos muitos dados, mas sabemos de sua existência, já no período inicial da criação da memória na empresa.
<><>Hoje, o Memória localiza-se dentro de um Monobloco Merecedes Bens de 1984. O museu, diferente de outros modelos de ônibus, tem o letreiro alto, comum em outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo os busólogos, para a capital só vieram 10 desses modelos, do número 151 ao 160. Um deles carrega, atualmente, a história da empresa mais antiga do país em atividade. Para os que visitam o Memória, o próprio local é parte da exposição que perpassa diversos momentos históricos da capital.
<><>Nessas duas décadas, o museu da Carris já passou por várias alterações em seu design e em sua exposição. Na busca de aperfeiçoar e adequar a exposição ao público alvo- adolescentes e crianças- muitas mudanças foram feitas. Hoje, o Memória tem painéis ilustrativos com fotos antigas e explicações didáticas, a fim de facilitar a comunicação com o visitante. Contudo, a principal transformação foi a participação que o museu tem da vida estudantil na capital. Isso porque, ao ser itinerante, o museu tem participado cotidiano das escolas, sem que elas precisem se deslocar até ele. As visitas ocorrem durante a semana e se inserem no cotidiano escolar, podendo ser incluídas, inclusive, nos conteúdos programáticos.
<><>O museu é recebido sempre com muita alegria por toda comunidade escolar. Representante da Carris e da própria memória da cidade, ele promove uma divertida e entusiasmante troca de histórias nos lugares por onde perpassa. Desde outubro do ano passado, o Memória está com um blog - http://memoriacarris.blogspot.com-/ na internet. Nesse ano, em comemoração aos 20 anos, foi criado o Museu Virtual da Carris, que pode ser acessado pela página da empresa - www.carris.com.br. As fotos já estão sendo constantemente acessadas e comentadas por estudiosos e interessados em transporte coletivos.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Chegaram os bondes elétricos: nova luz às ruas de Porto Alegre


<><>Há 100 anos, no dia 10 de março de 1908, Porto Alegre observava em suas ruas uma nova forma de transporte por trilhos, agora movido a eletricidade. Começava a se tornar passado os antigos bondes a tração animal que tanto sofriam para subir as ladeiras. A modernidade chegava à Capital e trazia consigo o que havia de mais atual em termos de transporte.
<><>A novidade trouxe grande entusiasmo a Porto Alegre. Anúncios publicados nos principais jornais relatavam sobre as aglomerações que tomavam as ruas para ver os novos bondes,que andavam movidos a eletricidade. O empreendimento iniciara-se dois anos antes, em 24 de janeiro de 1906, quando as duas empresas que utilizavam a tração animal, Companhia Carris de Ferro e a Carris Urbanus, fundiram-se e formaram a Força e Luz Porto-Alegrense. A nova companhia ficou responsável tanto pelo serviço de bondes como pela rede de energia elétrica, que agora chegava mais barata às casas dos moradores da Capital.
<><>No ano da união das empresas, 37 bondes foram importados da United Electric, na Inglaterra. Essa era a primeira de várias remessas que Porto Alegre receberia ao longo da primeira metade do século XX. Segundo pesquisadores, devido ao elevado número de veículos importados, a maioria já utilizados no país de origem, a capital tornou-se um verdadeiro "museu a céu aberto”.Entre 1925 a 1946, a Carris ampliou sua frota, adquirindo 161 bondes elétricos de dois trucks – 151 dos Estados Unidos e 10 da Bélgica. No período áureo dos bondes, décadas de 50 e 60, a Carris operava com 229 carros – 130 norte-americanos, 89 ingleses e 10 belgas .
A formatação das ruas mudaria bruscamente com a novidade. Além dos trilhos, fez-se necessário a instalação da rede elétrica, utilizada para a rodagem dos pesados veículos. Os novos bondes eram mais velozes que os anteriores e colocaram Porto Alegre em conexão com o mundo – a capital tornava-se uma metrópole. Se com os bondes puxados a burro havia um lampião para iluminar o caminho, com os elétricos os faróis à noite embelezavam as tradicionais ruas da capital. Outra novidade com a chegada dos elétricos foram os bondes de dois andares, conhecidos como Chopp Duplo ou Imperial. Porto Alegre possuiu quatro modelos desse tipo, contudo, em 1921, eles foram transformados em veículos simples.
<><>Fabricados na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Bélgica, os bondes elétricos deixaram de circular em 8 de março de 1970, depois de 62 anos de funcionamento. Há inúmeras histórias dos veículos que tanto fizeram parte do cotidiano da Capital. Hoje, poucos bondes restam e são utilizados para outras finalidades. Contudo, 100 anos depois de sua primeira viagem, ele continua entusiasmando gerações com as histórias e memórias dos amantes dos bondes.

quinta-feira, 6 de março de 2008


<><>Como já mencionei neste espaço, o Memória neste mês completa 20 anos. O decreto de criação foi assinado dia 18 de março de 1988 pelo então prefeito Alceu Collares. Hoje, o museu é itinerante e percorre as ruas da capital, visitando escolas e eventos em geral. Sua ligação com as escolas é contínua, pois ano após ano gerações de crianças e adolescentes têm a oportunidade de conhecer essa história.
<><>Num primeiro momento, o próprio modelo de ônibus chama a atenção do visitante. O Memória é um Mereces Benz de 1984 que tem o letreiro alto, diferente dos modelos tradicionais da capital gaúcha. Segundo os busólogos, vieram somente 10 desses para Porto Alegre, mas eram comuns em São Paulo e no Rio de Janeiro. A Mercedez Benz teve sua fundação oficial no Brasil em 1953, sendo constante sua presença nas empresas da capital. Os veículos receberam números de 151 a 160, sendo um desses o museu itinerante atualmente.
<><>Na capital, o museu costuma ser olhado por curiosidade pelas pessoas que estão na rua. Seu design diferenciado chama a atenção dos que gostam de ônibus ou dos que simplesmente sentem-se atraídos por esse veículo. Muitos me perguntam se esse foi o primeiro ônibus da Carris. Costumo responder que o Memória é um “jovenzinho” comparado ao primeiro ônibus da empresa. Em muitas escolas recebemos desenhos do ônibus com a minha “foto” e do Chefia (apelido dado ao motorista do museu). O ônibus tem hoje 23 anos, sendo que desde 1995 carrega a história do transporte na capital.
<><>A partir do dia 16, o Memória volta a conviver diretamente com o cotidiano escolar. Estamos com a agenda aberta para visitas, nesse mês festivo, de aniversário de Porto Alegre e de uma das memórias mais importantes da capital, o museu itinerante. A foto acima foi nos cedida por Cristiano Saibro, na época em que esses veículos ainda trafegavam nas ruas da nossa cidade.
<><> Para marcar visitas é necessário mandar e-mail para memoria@carris.combr ou ligar para 32892122.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Busólogos


<><>Neste blog e nas visitas do Memória pouco falamos de ônibus, normalmente. Embora os ônibus sejam atualmente o principal transporte coletivo urbano, a Carris operou com bondes na maior parte da sua existência. Além disso, por não serem mais utilizados, os elétricos precisam ser rememorados constantemente às novas gerações.
<><>No entanto, a história dos veículos rodoviários nos interessa muito e se insere na trajetória da Carris em Porto Alegre. Nos últimos dias, entrei em contato com um busólogo, Cristiano Saibro, que me ajudou na identificação de várias fotos de nosso arquivo. Para uns pode soar estranho, mas a palavra surgiu da união de duas outras, bus + logos. A primeira significa ônibus em inglês, já a segunda é um termo em grego que designa conhecimento ou início, entre outros significados que não caberiam nessa postagem. Os busólgos normalmente detêm um conhecimento admirado sobre marcas, modelos, carrocerias entre outros a respeito de seus veículos favoritos. Graças à internet, muitos desses amantes de ônibus têm seus conhecimentos expostos em sites, fotologs e blogs. Reunidos em comunidades no Orkut, páginas e encontros (nacionais, regionais e estaduais), desenvolvem um amistoso debate sobre marcas, modelos entre outros.
<><>Segundo alguns, o termo busólogo surgiu no Brasil em 1979, por intermédio do designer de ônibus Hélio de Oliveira. Como admirava seu trabalho e coletava muito material relacionado, fundou em abril de 1979 o Clube do Design de Ônibus (CDO). Em 1986, os seus colegas de trabalho começaram a chamá-lo de busólogo. Do apelido surgiu o nome de sua paixão, busologia. Essa não seria uma ciência, mas uma espécie de hobby ou passatempo diferente. De acordo com relatos, existe uma teoria de que quando a criança freqüenta muitos terminais e garagens, desenvolve um interesse pelo assunto. Ninguém, no entanto, toma a busologia como profissão, os busólogos basicamente se interessam em obter informações e colecionar material relacionado ao universo do ônibus: fotos, brindes, cartazes, revistas, livros e informações em geral - registrando assim, a evolução do transporte coletivo. Mesmo se tratando de um hobby, quem o exercita o faz com muita seriedade, muitas empresas reconhecem e os apóiam, inclusive acatando suas sugestões e pedidos.
<><> Para os amantes da história do ônibus, a foto acima é do primeiro modelo da Carris em 1929, Yellow Coach. E para os busólogos, essa página é dos colegas do Rio de Janeiro: http://www.ciadeonibus.com/index.htm.