segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Senador e o Bonde




Advogado, político e professor da Faculdade de Direito, Armando Câmara Marcon por inteligente, digno e erudito. Foi um católico fervoroso. Sua bondade, calor humano e humor fino fizeram-no muito estimado por todos. Tanto que era comum grupos de alunos visitarem-no no “Solar dos Câmara” na Duque de Caxias.
Numa dessas ocasiões, polegares no colete, fronte alta, voz séria e formal, caminhando grave pelo gabinete da casa,contou-lhes este episódio, em seu linguajar característicos.
            “Na semana passada, como faço sempre, peguei o bonde Duque, na Praça XV, para vir para casa. O gaiola cheio, entrei com dificuldade. Foi quando notei um cidadão que olhava para mim sorrindo. Como não o conhecia, não dei maior atenção. Arranjei um canto e lá fiquei, de.pé.
            O bonde passava pela praça da Alfândega. Virei-me para olhar não sei o quê, e lá estava o mesmo sujeito, riso fácil, a encarar-me. Não gostei. Por quem me tomava, afinal? Fingi que não era comigo e desviei-me, procurando esquecer o assunto.
            O gaiola acabara de contornar o Correio do Povo e corria desabalado pela Rua da Praia. Ocorreu-me a infeliz idéia de espiar o tal indivíduo. Continuava a fitar-me, os lábios debochados emoldurndo-lhe os dentes. Irritado, virei-lhe as costas e, aproveitando que a maioria já descera, acintosamente caminhei para a outra extremidade do vagão, onde consegui assento.
            Tudo inútil. Tão logo o bonde venceu a Vasco Alvez e entrou na Duque de Caxias, o marginal veio atrás, quase às gargalhadas, olhando para mim com escárnio e zombaria.
            Vibrei de alegria e emoção. Quem vinha subindo a Ladeira? A vítima da minha brutalidade! Era a oportunidade para redimir-me. Abri os braços e desci a seu encontro pedindo perdão, enquanto clamava: irmão! Irmão!
            Ele, ao ver-me, arregalou os olhos numa expressão de pavor, girou sobre os calcanhares e precipitou-se ladeira abaixo, aos gritos:
            - É o louco do bonde! É o louco do bonde!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

NA “PARADA DA MEMÓRIA”

Na foto da esquerda para a direita: Marcos Silva, Luis Fabiano Silva, Ana Laura Silva , Rita Isabel Silva e Ana Lívia Silva
          Em nossa última postagem do Blog, compartilhamos com todos a nossa participação junto à 57ª Feira do Livro e destacamos a troca estabelecida em meio às atividades que estamos promovendo com os participantes. Experiência que tem nos sido imensamente gratificante. Nesse sentido, gostaríamos de partilhar, ao longo do tempo, nossas (com) vivências na Feira.
No dia 02 de novembro, quarta-feira, recebemos a Sra. Rita Isabel da Silva que logo revelou, enquanto observava a exposição Fragmentos Urbanos, ter uma história relacionada àquelas imagens. Sugerimos que ela contribuísse com nosso acervo, prestando seu depoimento em nossa cabine da Parada da Memória.
Rita Isabel iniciou seu depoimento revelando que para ela a visita que estava fazendo naquele dia, em nosso espaço, era muito importante, pois vendo as fotos acabou por remeter-se “a coisas muito queridas”. As coisas queridas de Rita eram suas lembranças do pai.
Rita revelou que seu pai, Sr. Adão José da Silva, trabalhou durante muitos anos na Carris. Foi o primeiro e único trabalho de Adão que aos dezoito anos, segundo Rita, foi contratado, se afastando da Cia. somente no momento da sua aposentadoria.
Ao pronunciar suas lembranças, Rita impõe com uma sensibilidade única um tom fraternal ao seu discurso. Por coincidência fazia, naquele dia, 17 anos que o pai de Rita havia falecido.
Para reproduzir as emoções que conduziram nossa vivência com Rita só mesmo reproduzindo por escrito parte de seu depoimento:
“[   ] Eu e minha irmã nos sentimos muito orgulhosas do meu pai porque eles (os funcionários da Carris) eram uniformizados. Aquela roupa tinha que ser impecável. Então eu lembro da minha mãe passando o uniforme. Meu pai sempre foi muito vaidoso, se cuidava muito. [...] Então ele sempre barbeado com aquela roupa alinhada, que era engomada para que os frisos ficassem bem marcados. [...]  Lembro do pai quando chegava do trabalho, nos ficávamos esperando, a parada era quase em frente a nossa casa, lembro dele descendo do bonde.”
É com a imagem do pai de Rita descendo do bonde e de sua alegria em rever o pai que damos término a esta postagem. 

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Memória Carris na Feira do Livro


A Memória Carris está participando da 57ª Edição da Feira do Livro de Porto Alegre. Nosso espaço está localizado junto ao Cais do Porto, na Área Infantil e Juvenil, bem próximo à Praça de Alimentação.
Em meio a um dos cenários mais belos de nossa Capital, montamos e equipamos uma cabine para registrar depoimentos daqueles que cultivam memórias sobre a cidade, o desenvolvimento e a mobilidade do espaço urbano. Nosso objetivo é aumentar o nosso acervo audiovisual, fomentando a pesquisa e a produção sobre a história do transporte coletivo e de Porto Alegre, bem como desenvolver elementos culturais (vídeos, exposições, publicações, etc.) com finalidade educacional e social, de valorização dos elementos urbanos e da cidadania.
Dentro da cabine, o depoente é convidado a compartilhar suas vivências da Porto Alegre antiga e contemporânea, através de suas experiências citadinas, destacando-as a partir do transporte (bondes e ônibus) .  Antes de adentrar a cabine, os visitantes são recebidos pela exposição Fragmentos Urbanos, composta por fotografias antigas e atuais do transporte público nas ruas e avenidas da Capital. As imagens demonstram a trajetória compartilhada, desde o século XIX, da Carris com Porto Alegre. Além de chamar a atenção do público, as fotos despertam as lembranças individuais que constituem o nosso imaginário urbano.
A troca que vivenciamos nesse espaço está sendo muito gratificante. Até o presente momento já recebemos mais de 50 depoimentos que demonstram a importância da história da Carris para além dos documentos oficiais. Tanto nos relatos registrados, como nos comentários sobre as fotografias expostas, podemos perceber a importância do transporte público na vida dos porto-alegrenses.
Aguardamos a todos e todas até o final da Feira, no dia 15 de novembro.
Venha compartilhar suas histórias!