terça-feira, 31 de maio de 2011

Nos Caminhos da história oral (parte 2)


A
A história oral tem peculiaridades e desafios que lhe são próprios. Quando analisamos documentos “prontos” – escritos - penetramos em um mundo que já foi, pelo menos teoricamente, construído, antes que tivéssemos conhecimento dele. Dessa forma, nesse caso, na busca de entender o que chega até nós, buscamos o contexto social, cultural, linguístico e intelectual de certo texto. Em outras palavras, o que encontramos está “pronto”, compete a nós, pesquisadores, interpretar o que já está construído, o que já foi constituído. Não queremos aqui negar o fato que os vestígios históricos são continuamente reinterpretados pelas gerações e que novas interpretações são produzidas, mas de qualquer forma isso reflete mudanças no nosso tempo não no documento “em si”.
No caso de documentos orais as dinâmicas são muito diferentes. A primeira questão é que eles não existem antes que o pesquisador se interesse pelo tema, sem que crie o problema e a pergunta através da qual irá investigar. A entrevista é marcada pelo pesquisador, produzida por ele para utilizar em sua pesquisa. Há, dessa forma, o elemento da subjetividade presente e mais forte que no uso de documentos escritos. Além disso, embora a fonte seja oral o que produzidos é escrito. Entonação, por exemplo, não é passada no momento em que os depoimentos são transcritos. O pesquisador faz as perguntas e as respostas dependem da memória do entrevistado e de sua vontade de relatar o que viveu. Sendo a memória seletiva, é impossível lembrar sem esquecer. O que o entrevistado nos conta, geralmente, fala mais sobre si mesmo e sobre o que hoje pensa sobre o que ocorreu do que necessariamente sobre os fatos que ocorreram. Como penetrar nesses labirintos? Onde termina e começa a subjetividade? Será que o entrevistado nos fala sobre o que viveu ou sobre o que hoje pensa sobre isso?
Não existem respostas claras e precisas para as perguntas que coloquei acima. Quando trabalhamos com história oral cruzamos a linha que separa a subjetividade da objetividade. Trabalhamos com antropologia, sociologia e psicologia, tentando entrar em um mundo que foi no passado, mas que pertence a um ser que conosco divide o presente, mas que viveu algo que atualmente tentamos entender.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

18 de Maio - Dia Internacional dos Museus


Hoje comemoramos o Dia Internacional dos Museus. Com objetivo de ressaltar a importância dessas instituições para a sociedade, a data foi instituída pelo Comitê Internacional de Museus (ICOM), em 1977.
 Este momento é propício para refletirmos sobre o papel dos museus na atualidade. A partir de uma relação dialógica com a comunidade, as instituições museológicas contemporâneas são espaços multidisciplinares que trabalham com preservação, conservação, comunicação, educação, investigação, entre outras ações nas diferentes áreas do conhecimento. No entanto, para promover o desenvolvimento desses espaços museais é imprescindível à elaboração de políticas públicas. Nesse sentido, em 2009 foi sancionada a Lei nº 11.906 que criou o Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM, uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura.  
            O IBRAM é um órgão muito importante para fomentar a criação de novas instituições e o desenvolvimento das já existentes, procurando melhores formas de expansão e manutenção do acervo, aumento de freqüência, arrecadação financeira, descentralização, entre outros aspectos relacionados à gestão. Dessa forma, temos uma política pública para gerenciar a área museológica no país. Todos os anos o IBRAM promove a Semana Nacional dos Museus, em celebração ao Dia Internacional A Semana é um momento no qual são desenvolvidas atividades em todo o país, este ano a temática é Museu e Memória.
No caminho de ampliar as possibilidades do nosso Museu Itinerante Memória Carris, antigamente vinculado a Assessoria de Comunicação e Marketing da empresa, foi institucionalizada, recentemente, a Unidade de Documentação e Memória Carris. Dessa forma, além de trabalhar com a divulgação da história da Cia, configura entre nossos objetivos explorar, através das memórias e histórias que a Carris compartilha com Porto Alegre ao longo de mais de um século, ações culturais, educacionais e sociais que promovam o desenvolvimento da cidadania.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Celso Russo (Programa de História Oral)


Geralmente nas terças feiras, entrevistamos antigos e novos colaboradores no intuito de conhecer um pouco mais das trajetórias individuais daqueles que diariamente vivem e configuram a Carris, seus colaboradores. Numa dessas terças entrevistamos, na sala da unidade de Compras da companhia, o senhor Celso Roberto Lopez Russo que trabalha na Ferramentaria, setor que faz parte da manutenção da empresa.
A relação de Russo com a Carris começou antes que ele ingressasse na companhia, quando tinha 14 anos e trabalhava entregando material de escritório. Costumava, nessa época, subir com o bonde a avenida Alberto Bins muitas vezes pendurado na porta como bom menino travesso. Entre as muitas histórias que relatou, cita um tio que, numa curva do bonde, bateu a cabeça no poste. Esse fato, embora nos chame a atenção atualmente era, segundo nos relatam os jornais de época, algo corriqueiro devido ao hábito que alguns transeuntes tinham de viajar nos estribos do bonde, agarrados em suas portas. Assim como outros que também entrevistamos, Russo nos falou do chamado bonde “fantasma”, uma espécie de veículo coruja que passava no início da madrugada pelo bairro glória. Quem fazia esse trajeto era um bonde “gaiola”, veículo de quatro rodas que balançava muito em cima dos trilhos, o apelido vem do fato de ser menor que os outros.            
Professor Russo, como é carinhosamente chamado, entrou na Carris em 1989 como motorista, de 1992 a 1993 tornou-se mecânico de pista, responsável pela verificação das condições dos veículos. Em 1996 ele foi emprestado para a prefeitura e desde 2009 trabalha na oficina da empresa. Celso esteve presente em vários momentos importantes na história da Carris, entre eles na intervenção da prefeitura em 1989. Russo viveu esse momento marcante para a história de Porto Alegre na “linha de frente” como motorista da Restinga. Segundo ele, um belo dia chegou à companhia e lhe avisaram que ele faria essa linha, como não conhecia a linha os próprios passageiros lhe ensinavam o caminho. De acordo com ele ainda, a Carris assumira, nessa situação, as linhas “complicadas” e reformavam na própria oficina os ônibus para que esses pudessem transitar. Assim, a partir desse momento, as outras empresas também são obrigadas a investir na qualidade dos coletivos.
Com um carinho especial pela Carris, Russo reforça o que considera pontos extremamente positivos da Companhia e da sua relação com a população, qualidade dos ônibus (que servem de modelos para outras empresas) e relação amigável entre funcionários, segundo ele: “a Carris mora no meu coração”. Essa relação com a empresa, no entanto, vai além de sua geração, de acordo com o professor seu tio-avô já havia trabalhado na Carris como eletrecista.