segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

I Feira do Livro da Carris

      A última semana foi muito especial para nós da Unidade de Documentação e Memória Carris. Entre os dias 18 e 20 de dezembro realizamos a I Feira do Livro da Carris. Este foi o primeiro evento do tipo na empresa, esperamos entretanto, que várias outras "Feiras do Livro" aconteçam aqui na Carris. De acordo com a avaliação de nossa Unidade, esta foi uma iniciativa de sucesso. Além da venda de livros ocorreram atividades culturais bem interessantes que contaram com a participação de vários de nossos colegas. O objetivo da Feira foi incentivar a leitura entre os colaboradores da Carris e reunir os diferentes setores da empresa em meio a valores positivos como a leitura e a cultura. Nossa Feira foi oficialmente aberta na quarta-feira dia 18, às 14h, através de uma cerimônia de abertura que contou com o Diretor do Administrativo e Financeiro da Carris, Vidal Pedro Dias Abreu. Em seu discurso, o Diretor Vidal falou sobre a iniciativa de uma Feira do Livro da Carris e sobre a importância da leitura. 


  
  Durante a tarde desta mesma quarta-feira, realizamos as nossas primeiras atividades culturais, neste momento voltadas para o público infantil. Compareceram aqui na Carris os alunos da creche "Três Corações", que recebe apoio da empresa. Estes alunos assistiram a uma contação de história realizada pelo escritor infantil Carlos Augusto Pessoa de Brum e participaram de uma oficina de ônibus de montar de papel com nosso colega voluntário Ismael Bohem da Silva. 


    Na quinta-feira, dia 19/12, ocorreu a "Tarde de Autores". Estiveram presentes neste evento os escritores Alexandre Fiore, Newton Terra, Fernando Almeida, Hilda Flores e Moacyr Flores. Cada um falou um pouco sobre a sua obra e após todos participaram de uma sessão de autógrafos. Este foi um momento muito legal da Feira, já que a participação de nossos convidados foi de altíssimo nível, proporcionando aos presentes um momento de muita troca de conhecimentos. 


    As temáticas apresentadas pelos autores convidados foram as mais variadas. Os senhores Alexandre Fiore e Newton Terra são médicos, o primeiro é pediatra e falou sobre os cuidados dos pais com as crianças; já o segundo é geriatra e falou sobre qualidade de vida na terceira idade. O senhor Fernando Almeida é poeta regionalista e declamou um belo poema de sua autoria. Os senhores Hilda e Moacyr Flores são historiadores. A professora Hilda Flores apresentou seu livro que fala sobre as mulheres contemporâneas da Revolução Farroupilha, um trabalho de história realmente inspirador. 



O professor Moacyr Flores falou sobre o trabalho do historiador e o cuidado com os "sensos comuns" construídos em relação ao passado. Também comentou sobre as décadas de estudo e trabalho que dedica  as profissões de pesquisador e professor. Enfim, foi uma tarde de muita cultura aqui na Carris.


  
Como falamos no início deste texto, esperamos que muitas outras Feiras do Livro ocorram na Cia. Carris Porto-Alegrense. Momentos como estes são oportunidade preciosas para ampliarmos nossa aprendizagem e compartilharmos conhecimento.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Madiba


       Hoje abrimos um parênteses em nossas postagens para falarmos sobre Nelson Mandela. O dia cinco de dezembro de 2013 com certeza entrará para a história, ontem a noite perdemos um dos maiores líderes destes últimos séculos. A vida de Nelson Mandela é uma aula de história e uma lição de determinação e luta pela justiça. 
      Nascido no ano de 1918 em Mvezo, zona rural próximo à região do Cabo na África do Sul, Mandela era membro da nação Xhosa, uma tradicional tribo da região. Em 1942 Mandela começou a frequentar as reuniões do CNA (Congresso Nacional Africano), movimento que lutava por condições mais iguais entre negros e brancos na África do Sul, país politicamente dominado por uma minoria branca formada por descendentes de inglês, holandeses e alemães. Em 1948 o Partido Nacional chegou ao poder na África do Sul e criou o "apartheid", uma política de segregação racial oficializada pelo Estado. Tornaram-se políticas de Estado medidas como a proibição de casamentos entre negros e brancos, a criação de áreas residenciais exclusivas para negros, assim como escolas também segregacionistas, além de outras medidas racistas. Postamos a seguir, imagens em que apresentam exemplos de práticas racistas que aconteciam com apoio oficial na África do Sul no período:

Bebedores exclusivos para brancos e negros. 


Praia segregacionista, com áreas exclusivas para brancos.

        Neste momento,  a CNA tornou-se o principal foco de resistência e luta contra o apartheid e Mandela a sua mais importante liderança. Em 1952 Mandela foi preso pela primeira vez. Em 1960 a CNA tornou-se ilegal e Mandela, juntamente com outros partidários do movimento, criaram a "Umkhonto we Sizwe" (Lança da Nação), mão armada do movimento anti-apartheid.  Após dois anos agindo através da "Umkhonto we Sizwe", Mandela foi preso em 1962, ficando na cadeia por 27 anos.
       Ao sair da cadeia, em 1990, Mandela assumiu um discurso de conciliação e esforço para unir o país em torno da ideia de reconstrução com respeito aos diferentes povos que o compõem. Em 1994 foi eleito presidente da África do Sul e colocou em prática o seu discurso conciliador, pregando que era o momento de esquecer o passado e construir um novo país. Em 1999, quando deixou a presidência, realmente a África do Sul era um país bastante diferente, buscando ativamente superar seu passado segregacionista.
      São de Mandela as seguintes palavras: "Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, ou por causa de sua origem ou religião. As pessoas aprendem a odiar e, se elas aprendem a odiar, elas podem ser ensinadas a amar, porque o amor vem mais naturalmente para o coração humano do que o seu  posto". Desejamos que fique como legado de Mandela a consciência de educar as próximas gerações para o amor e a tolerância e não para os seu opostos. Que possamos aprender a conviver e respeitar todos, a pesar de nossas diferenças.


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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Senhor Talis Wolkmer


      Nesta última quinta-feira, dia 28 de novembro, nós da Unidade de Documentação e Memória Carris fomos visitar o senhor Talis Wolkmer, um ex colaborador da Empresa. Seu Talis é natural de Porto Alegre, nasceu e morou a maior parte de sua vida no bairro Azenha (atualmente vive no bairro Medianeira). Durante a entrevista, seu Talis nos contou que seu pai, um tio e um primo também trabalharam na Cia. Carris. O nome do pai do seu Talis era José Arcelino Wolkmer, e ele foi fiscal de bonde. 
    Seu Talis trabalhou "apenas" 39 anos na Carris, ingressou em primeiro de maio de 1947, se aposentando no ano de 1986. Durante este intervalo de tempo, exerceu inúmeras funções na empresa. Diz que o fato de ter começado a trabalhar num primeiro de maio fez com que ele se tornasse uma pessoa muito trabalhadora. Como não poderia deixar de ser, nosso entrevistado tem um grande carinho pela Carris, já que aqui passou grande parte de sua a vida, assim como o seu pai havia feito antes dele. Na casa deste senhor há um número bastante grande de objetos que fazem referência a empresa, como mini bondes, chaveiros com o símbolo da Carris, placas que recebeu ao longo de sua jornada na Cia., entre outras lembranças.
       Este senhor é um grande contador de histórias, tanto que o tempo de uma hora e meia que reservamos para a entrevista não foi suficiente, teremos que agendar uma nova visita ao senhor Talis. Ele nos contou que sua primeira função na Carris foi de colocador de bobina nos bondes, mas que como fazia um curso de Torneiro Mecânico no SENAC, logo foi utilizado em outras funções. É de seu Talis a informação que existiu na Carris uma cooperativa que vendia aos funcionários da empresa produtos de alimentação, higiene, limpeza e vestuário a um preço menor que o do comércio tradicional. Até a realização desta entrevista não tínhamos esta informação. Seu Talis foi responsável por esta cooperativa da década de 1960 até seu fechamento em 1973, quando a Carris mudou sua sede da Avenida João Pessoa para a rua Albion. Entre as histórias contadas por seu Talis consta a de que a chegada do caminhão do "rancho da Carris" na casa dos antigos colaboradores era a maior festa para a criançada.
        Após o fechamento da cooperativa, seu Talis passou a trabalhar  no Departamento Pessoal da Carris, chegando a ser chefe do setor. Também trabalhou na "Escola de Motoristas", de onde guarda muitas histórias. Uma delas é da turma "rebelde" que foi "enquadrada pelo senhor Talis e se tornou um modelo para os alunos posteriores. 
        Quando postamos a imagem do seu Talis no facebook percebemos o quanto ele é querido por seus ex colegas. Várias pessoas comentaram a imagem lembrando deste simpático senhor e falando de suas saudades!  




               Foto do Departamento Pessoal da Carris, no período em que o Sr. Talis ali trabalhava.



             Foto do Sr. Talis tirada na última quinta-feira.
 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Uma visita muito especial

Na última sexta-feira, dia 14 de novembro, nossa equipe foi visitar um ex colaborador da Cia. Carris. Trata-se do senhor  Antônio, que foi barbeiro da Companhia Carris Porto-Alegrense entre os anos de 1961 e 1970, quando a sede da empresa ainda se localizava ali na Av. João Pessoa. Foram visitar o seu Antônio duas historiadoras de nossa equipe. A entrevista realizada para compor nosso banco de história oral durou por volta de uma hora. Durante este tempo, seu Antônio nos forneceu várias informações interessantes, tanto em relação ao seu trabalho de barbeiro quanto sobre a relação entre os funcionários da empresa nos diferentes setores da Cia.
Seu Antônio nos contou por exemplo, que quando começou a trabalhar como barbeiro na Carris, a barbearia já existia a bastante tempo e era muito utilizada. Seu horário de serviço iniciava as cinco horas da manhã para atender os motorneiros e condutores que faziam as primeiras linhas dos bondes. Além dos seu Antônio, também trabalhavam na barbearia mais três barbeiros. A barbearia ficava aberta até as dez da noite, assim sendo, podia atender os funcionários que trabalhavam nos diferentes horários do expediente da empresa. A boa apresentação dos funcionários era um quesito exigido na época, se o colaborador se apresentasse na empresa desalinhado, com o cabelo grande e a barba por fazer, era convidado a voltar para casa e perdia o dia de trabalho, por isso o serviço prestado pela barbearia era tão importante. Os preços cobrados para os trabalhadores da empresa eram abaixo do preço normalmente cobrado em outras barbearias, seu Antônio nos informou que era apenas o suficiente para repor o material utilizado pelo estabelecimento. Os quatro barbeiros eram funcionários da Cia. Carris e recebiam seus salários por ela. Seu Antônio nos contou que os diretores da Cia. também utilizavam os serviços dos barbeiros, mas que, entretanto, eram atendidos em suas salas. 
Além do seu trabalho na barbearia, seu Antônio lembrou de outros aspectos da vida cotidiana dos trabalhadores da Carris na época. Sobre o refeitório, por exemplo, ele nos contou que o mesmo tinha o apelido de "Panelão" e que a comida era muito boa. Ocorriam festas na empresa para os familiares dos colaboradores, seu Antônio tem boas lembranças destes eventos. Em datas cívicas (como dia da independência, dia da proclamação da república, entre outros), os bondes eram decorados com fitas verde e  amarelas, em concordância com o nacionalismo, uma das características de períodos ditatoriais como o em que seu Antônio trabalhou na Carris. 
Ao final da entrevista o ex colaborador deixou claro seu carinho pela Cia. Disse que tem saudades do tempo em que trabalhou na Carris, que guarda boas lembranças de seus colegas (com os quais manteve contato ainda por muito tempo). Com o dinheiro que recebeu quando saiu da empresa o seu Antônio abriu o seu próprio salão, até hoje ele trabalha como barbeiro em seu próprio estabelecimento. Postamos a seguir duas imagens, uma do seu Antônio atualmente e outra da antiga barbearia da Carris. 



Seu Antônio fotografado por nossa equipe na última sexta-feira.



Imagem da barbearia na década de 1960, período em que se Antônio trabalhou na Carris.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

59ª Feira do Livro de Porto Alegre

    Como comentamos em algumas postagens em nosso facebook durante a semana passada, Porto Alegre está vivendo em clima de literatura. A nossa tradicional Praça da Alfândega encontra-se novamente ocupada pela Feira do Livro de Porto Alegre. Esta é a 59ª edição da Feira, que teve início em 1° de novembro e deve encerrar no próximo dia 17.
      Este ano o patrono da Feira do Livro é o professor de literatura brasileira e escritor Luís Augusto Fischer. A sua posse ocorreu no dia 1° de novembro, as 19 horas na Praça de Autógrafos. O país homenageado em 2013 é a Alemanha, um dos motivos pela escolha deste país foi a  realização da "Temporada Alemanha + Brasil 2013-2014". O "Goeth-Instituto" será parceiro de uma série de atividades relacionadas ao país homenageado. 
    Uma atividade bastante interessante é a Mostra de Cinema Alemão, que esta ocorrendo no Cine Santander Cultural desde o dia 11 de novembro. Fica aí uma dica muito legal, a entrada é franca e os filmes têm legenda em português. A escolha pelos filmes se deu pela relação que eles estabelecem com a literatura, mantendo, portanto, o "link" com a Feira do Livro. Postamos a baixo a programação para os próximos dias:
13/11
15hrs: "Como fazer um livro com Steidl Gereon Wetzel", de Jorg Adolph.
17hrs: "Minhas mentiras, meu amor", de Alain Gsponer.

14/11
15hrs: "A Torre", de Christian Schwochow.

15/11
15hrs: "Livros de Memória", de Christa Graf.
17hrs: "Houwelandt", de Jorg Adolph.

16/11
15hrs: "Despedida de Bockow",  de Jan Schutte.
17hrs: "O som das palavras", de Gerhard Schick.

17/11
15hrs: "A mulher com cinco elefantes", de Vadim Jendrey. 
17hrs: "Como fazer um livro com Steidl Gereon Wetzel", de Jorg Adolph.


               Luís Augusto Fischer, patrono da 59ª Feira do Livro de Porto Alegre.


                                              Imagem da Feira do Livro de 2013.



                                                 Leitores na Feira do Livro de 2013.


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Exemplo de vida

Semana passada postamos um texto escrito por um usuário da Cia. Carris e que foi publicado no ano de 2002, durante as comemorações dos 130 anos da Carris. Tratou-se do conto "O Bonde da História", de autoria do Senhor Eduardo Costa de Moraes. Como já comentamos anteriormente, este texto fez parte do livro "Cento e Trinta Anos Carris: Relatos da História e Outras Memórias", realizado a partir de um concurso de contos em que vários antigos usuários da Cia. Carris escreveram contos relembrando o seu cotidiano nos veículos da Cia. Hoje postaremos mais um texto que foi selecionado para esta coletânea, trata-se do conto "Exemplo de vida", escrito pelo Senhor Marino Acuan Fernandes.  Como nossos leitores poderão verificar, este é um texto bastante comovente.

"Exemplo de vida

      Menino só, vezes sem conta triste; mãe e pais em trilhas divergentes; separação, afinal. Aquela criança, lá no passado, fazia 12 anos. Mantendo-se firme, não aceitou abandonar os estudos, todavia, como pagar, diariamente, o bonde que o aguardava todos os dias, mesma hora, manhãzita, fim da linha Petrópolis, perto do antigo cinema Ritz?Decidiu-se! Venderia garrafas ao proprietário do bar na esquina da Rua Lagoinha, onde resedia, no mesmo edifício.
     Vizinhos fraternos forneciam as garrafas, muitas com o gargalo quebrado; o proprietário do bar, como que não notando, entregava ao menino o valor da passagem, ida e volta, destino colégio IPA; assim continuou o estudo. Um dia, inverno, muito frio, viu-se frente ao bar; estava fechado, com um aviso preso à porta: 'Hoje, abriremos só a tarde'.  
     Pensou o menino que perderia a sabatina mensal no colégio e decidiu ir a pé à Rua Santa Cecília. Ao chegar perto do fim da linha, lá estava o bonde: que fazer? Tentar a sorte pensou, subindo no bonde e escolhendo um cantinho, rogando a Deus que o cobrador não o visse. Deus, entretanto, não poderia agir assim. Obrou de maneira diversa: homem de meia idade em cujo rosto aflorava grande bondade, olhando o menino assustado, piscou o olho, colocando a mão no próprio bolso, deixando cair uma moeda na abertura do blusão do menino, que, assim, pagou a passagem. Aquela pequena criatura jamais esqueceu o que é fraternidade, e em muitas ocasiões de sua existência, fez o mesmo com irmãos necessitados, lembrando-se sempre daquela face bondosa. Até hoje, associa a Carris aos bondes e seus cobradores. 
     Sabe, mais de cinco decênios se passaram, e o esquecimento não tem guarida no ontem menino, hoje homem de meia-idade. Tudo graças a um cobrador de nossa empresa Carris". 
Postamos a seguir imagens da Porto Alegre dos bondes, em homenagem aos nossos antigos passageiros e tripulação, protagonistas de muitas histórias como esta.








terça-feira, 29 de outubro de 2013

O BONDE DA HISTÓRIA

      Os bondes circularam em Porto Alegre até o ano de 1970. Fizeram parte do cotidianos da cidade por quase cem anos, muitas histórias ocorridas dentro dos bondes da Carris povoam as lembranças de nossos conterrâneos mais antigos. Como já comentamos anteriormente neste blog, no aniversário de 130 anos da Carris foi produzido um livro com contos escritos pelos usuários da companhia, lembrando de suas histórias. Iremos transcrever agora um destes contos. Trata-se do texto de Eduardo Costa Moraes. O título do conto é "O Bonde da História", nele o autor relembra algumas cenas comuns ocorridas durante os trajetos realizados pelos bondes. 

O Bonde da História

   "Naqueles distantes caminhos do passado, naqueles trilhos que só existem no lembrar, ainda faz barulho, range, solta faísca, ainda apita um bonde lotado de lembranças. Nele viaja um guri vindo lá do interior que se deslumbra com tudo o que vê pela janela.
     Passam parques, casa esquina, postes anúncio de brilhantina, passa até uma garotinha na janela de um carro que o olha com inveja.  O contador se agita querendo passar, com o dinheiro dobrado entre os dedos, indo lá no fundo buscar a passagem. Acotovela, pisa nos pés dos incautos e resmunga. De tão cheio o bonde parece que vai explodir. Todos se apertam, cuidado, vais descer o gordão, prendam a respiração.
   Passa, também bairros, ruas, feiras, igrejas, enfim, passa o mundo pela janelinha. O bonde tem portas dos dois lados. Onde fica a frente se tudo é duplo, e igual? Entra povo e desce povo. Na outra parada, tudo de novo. O rapaz dependurado numa das portas nem liga para o fiscal que pede, pausado, um passinho à frente, minha gente.
   Para e segue, espirra e patina, desce, sobe gente. Subitamente um clarão com uma chispa. Tudo para, silêncio. O fiscal pula fora e com uma vara que tirou do teto prende a roldana no cabo religando a corrente.
   Na subida começa a patinar de tão cheio e pesado. E agora, o que fazer? De novo o fiscal, vai e abre uma caixa abaixo. Qual ampulheta a areia cai por sobre o trilho e o bonde sobre a lomba, rangendo e reclamando. Um pingente grita aos outros: cuidado com o poste. Estou avisando!
  Apressado aquele homem salta ante da parada, quase se estatela no chão dando estranhos passos de ballet para não pisar no rabo do cão. Por pouco não derruba a velhinha que vendia pastéis na esquina. De repente um desavisado puxa a corda do marcador de passagens pensando ser a campainha para descer. Tem de aguentar a bronca do cobrador que insiste em cobrar as passagens marcadas por engano.
   Aquela senhora de chapéu de pluma temia em fazer cócegas nos narizes alheios. A mocinha rubiriza pela proximidade do garotão que a olha boquiaberto. Ah! A mala! Alguém entra com uma mala para aumentar a confusão. 
  Uma freada brusca! Todos se deslocam para frente, agarrando-se como podem. Alguém se assusta! A velhinha descabelou o senhor de cabelos lustrosos de brilhantina, coisa fina. O cabo da sombrinha daquela senhora quase engancha na orelha do guri a janela, que resmunga com ela. Lá no fundo um som abafado. Pedem respeito com o povo que não é gado. Mas a viagem segue até o seu destino.
  Fim da linha. O bonde quase vazio diminui a velocidade e para com um suspiro, ou seria um espirro? Um ruído de motor demonstra que ainda está vivo, pois tremem as suas entranhas, estará vivo? O condutor, também chamado de motorneiro, apanha o seu banquinho e pausadamente atravessa o corredor já vazio. 
  Em poucos instantes recomeça a viagem de volta, inverteu-se a direção. O que era frente agora é ré. Tudo aquilo que passou vai despassar. O caminho de volta também é passageiro.
   Porém o progresso também viajou. Desapareceram os trilhos. O pneu chegou. E o encanto acabou. Então este velho guri de cabelos já brancos lembrou de sua juventude que ficou naquele bonde de sua história. Era um tempo em que a cidade era uma Porto mais Alegre, menos agitada, mais contente e romântica, que raramente saía dos trilhos."

 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Grêmio Esportivo Força e Luz

Um dia após a um dos mais empolgantes "Gre-Nais" dos últimos anos, iremos falar sobre um antigo time porto-alegrense que, de alguma forma, se relaciona com a história da Carris: o Grêmio Esportivo Força e Luz.
No ano de 1905 as duas empresas de transporte público de Porto Alegre, a Carris de Ferros Porto-Alegrense e a Companhia Carris Urbanus se reuniram e criaram a Companhia Força e Luz Porto-Alegrense. O objetivo desta "nova" empresa era fornecer energia elétrica para cidade e ser responsável pelo transporte através dos bondes elétricos.
O clube de futebol "Grêmio Esportivo Força e Luz" foi fundado em setembro de 1921, ele era conhecido como "time da Carris". Também tinha os apelidos de "Forcinha" e "Rajado", o terceiro nome em função de sua camisa listrada em vermelho e branco.
Na década de 1930 o Força e Luz era um dos poucos times porto-alegrenses a admitir negros em seus quadros de jogadores, algo inovador no período. Durante a década de 1940 o time foi obrigado a trocar de nome, neste período teve os nomes de "Rio Branco" e "Corinthias", voltando posteriormente ao nome original.
No ano de 1959 o clube fechou seu departamento de futebol para reabri-lo no ano de 1972. Até 2006 o clube participou do campeonato de veteranos, neste mesmo ano vendeu seu estádio para uma rede de supermercados e requereu sua extinção junto à Federação Gaúcha de Futebol. Postamos a seguir duas imagens de times do "Força e Luz", uma da década de 1930 e outra da década de 1970.






                        

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Carris Urbanus: única concorrente dos bondes da Carris Porto-Alegrense na história dos bonds da capital.

       Quem acompanha conosco o história da Cia. Carris Porto-Alegrense sabe que a Carris foi fundada em 1872 pelo imperador Dom Pedro II. Até o ano de 1891 a Carris Porto-Alegrense exerceu o monopólio do transporte por bondes aqui na capital. Neste ano surgiu a única concorrente da empresa na história dos bonds em Porto Alegre: a Carris Urbanus. Em 1893, quando a Urbanus inicia suas atividades, as linhas dos bonds ficaram assim divididas: 
- Carris Porto-Alegrense: Menino Deus, Navegantes, Partenon (saída da estação Várzea), São Pedro, São João, Glória, Cascata e Teresópolis. 
- Carris Urbanus: Moinhos de Vento, Floresta, Partenon (saída da praça Senador Florêncio - servia Independência) e Cristóvão Colombo. 
       Uma curiosidade é que os veículos utilizados pela Urbanus Porto-Alegrenses eram menores que os da Carris e por isso foram apelidados pela população de "Caixas de Fósforos". A Cia. Carris trabalhava com dois modelos de bonds; um modelo de veículos abertos e um modelo de veículo fechado. Os bonds abertos receberam da população o apelido de "Vagabundos" por serem mais simples. Já os modelos fechados eram chamados de "Guaíba", pois eram maiores e lembravam a grandiosidade do nosso rio/lago. Outra curiosidade interessante é que os bonds não transportavam apenas passageiros, as empresas de transportes coletivo da época também alugavam os veículos para o transporte de carga e para cortejos fúnebres.
        No ano de 1906 as duas empresas de transporte público se unem fundando a Cia. Força e Luz Porto-Alegrense, que passou a ser responsável pelo transporte público e pelo fornecimento de energia para toda cidade. Entretanto, foram necessários dois anos para a realização das adaptações necessárias para o início da circulação dos bonds elétricos, assim sendo, apenas em 1908 os bonds elétricos começaram a circular em Porto Alegre. 


Foto Mercado Público em que aparece imagem de bond a tração animal.
 
 
Foto antiga sede do administrativo da Cia. Carris em que aparece bonds de tração animal.
 


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Exposição Temporânea no Museu de Porto Alegre Joaquim José Felizardo

      Nesta última semana, nossa colaboradora Claudete Luz (já falamos sobre ela em outras postagens) esteve no Museu de Porto Alegre fotografando nossa exposição "Temporânea: revitalizando memórias com Porto Alegre". Esta exposição foi produzida através de uma ação conjunta entre a Cia. Carris, a Secretaria Municipal de Governança, o Projeto Viva o Centro e a Associação Cultural Amigos da Memória Carris. Seu objetivo foi pensar e dar visibilidade aos processos de recuperação de territórios de Porto Alegre, tendo como foco as recentes ações de revitalização do Centro Histórico. 
    A mostra está dividida em 04 eixos: Cidade Antiga, Cidade Contemporânea, Cidade do Futuro e Coração da Cidade, demonstrando os encontros e desencontros das diferentes temporalidades da cidade. Com a exposição também se buscou ressaltar a importância da preservação e da valorização do patrimônio urbano, despertando laços de pertencimento e identificação na comunidade porto-alegrense em relação aos espaços da cidade. Espera-se que esta consciência se reflita num cuidado maior com estes espaços. 
    Quem for ao Museu Joaquim José Felizardo, além de conhecer a Temporânea, poderá apreciar  os acervos presentes no museu e a própria arquitetura do seu prédio. O solar Lopo Gonçalves, espaço que abriga o Museu de Porto Alegre, foi construído entre 1845 e 1855, para ser uma "residência de chácara", lugar de descanso da família do comerciante português Lopo Gonçalves. Sua arquitetura tem influência luza, sendo que o próprio prédio é parte do acervo do museu.
      Além do prédio, também podemos destacar como parte do acervo do Museu uma coleção de 20.000 fotografias que contam a história de Porto Alegre. Ou seja, visitar o Museu de Porto Alegre Joaquim José Felizardo é um interessante programa na cidade. As visitas podem ser feitas de terça a sexta - feiras, das 9h às 11h 30 min e das 14h até as 17h 30 min. A seguir postamos algumas das fotografias que foram tiradas pela Dona Claudete.
















segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Memória Carris no Acampamento Farroupilha

       Já postamos um texto comentando sobre o Acampamento Farroupilha no Parque Harmonia. A Cia. Carris Porto-Alegrense encontra-se representada no Acampamento através do Piquete "Herança Pampeana". O tema da Semana Farroupilha deste ano é "O Rio Grande do Sul no Imaginário Social", nós da Unidade de Documentação Memória participamos das comemorações através das atividades culturais que estão ocorrendo no nosso Piquete, sendo que estas atividades foram desenvolvidas dentro da temática do imaginário rio-grandense.
       Na última sexta-feira, após muitos ensaios, realizamos nossa primeira apresentação. Nosso primeiro público foram os alunos da creche "Três Corações". Apresentamos a leitura de um texto que fala sobre a importância do imaginário para a cultura de um povo, a representação teatral da lenda do João de Barro e a contação do conto "A última Viagem do Bonde Gaiola", de autoria de Clovis Milton Duval Wannmacher, antigo usuário dos bondes da Carris.
       O ponto alto de nossa apresentação foi a representação da Lenda do João de Barro, que causou grande impacto nas crianças que assistiam o espetáculo. Nossos colegas, atores da peça, se caracterizaram como indígenas e mais tarde como pássaros, o que chamou muito atenção dos aluninhos da creche. Nossas próximas apresentações serão: terça-feira, dia 17/9 às 13:00; quarta-feira, dia 18/9 às 18:00 e quinta-feira, dia 19/9 às 13:00 horas. Todos os nossos amigos estão convidados a comparecer e prestigiar nossas apresentações. A seguir, postamos imagens deste evento.



Início da nossa apresentação.




Encenação teatral da "Lenda do João de Barro".




O Diretor-Presidente da Carris Sérgio Zimmermann, junto com o patrão do CTG "Herança Pampeana" Elson Mello, recebendo uma maquete do Piquete produzida pelos alunos da creche "Três Corações" como homenagem a Cia. Carris.






segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O BONDE PETRÓPOLIS

Relembrando mais um pouco a relação entre os porto-alegrenses e a Cia. Carris, iremos transcrever a seguir um texto de um antigo usuário dos bondes da companhia. Trata-se do senhor Jorge Brinckmann, que escreveu o conto "O Bonde Petrópolis" para lembrar de sua juventude. Este conto foi publicado em 2002, durante as comemorações dos 130 anos da Carris, no livro "Cento e trinta anos Carris: Relatos da História e Outras Memórias".

O Bonde Petrópolis

    Uma velha tia, sempre que tomava conhecimento de que alguém teve uma conduta condenável (principalmente se era da família), dizia: "Alguém tem que colocar esta criatura nos trilhos". "Os bondes são o melhor exemplo a ser seguido pelas pessoas que querem andar pelos trilhos certos da vida, pois eles não saem dos trilhos, e quando saem, logo voltam", dizia minha tia olhando para nós, os sobrinhos. 
    Em 1958, ao completar 18 anos, recebi autorização do meu pai para chegar a qualquer hora em casa. meu presente foi além da calça "boca 18". Ema chave da porta da frente, como se dizia. Naquela época era assim. Minha mãe não gostou muito dessa liberdade de horário, porque até aquele momento, sempre que eu chegava depois das 23 horas, tinha que bater na janela do quarto dos "velhos" e esperar que um deles abrisse a porta para mim. Geralmente quem abria a porta era a minha mãe. 
    Morávamos em Petrópolis, quatro quadras do fim da linha do bonde, que era na esquina da Rua Carazinho com a Avenida Protásio Alves. De madrugada ouvia-se o ruído forte das rodas do bonde sobre os trilhos, chegando no fim-da-linha. Nas madrugadas de de sábado e domingo, minha mãe ficava esperando o "bonde coruja", que passava pelo abrigo da praça XV, mais ou menos às 3 horas da manhã, quando ainda a Boite Tabaris ia em meio às suas noitadas. Ela era sobre o abrigo, e a gente chegava até lá subindo por uma escadinha estreita no centro (escada que nunca me animeia a subir, porque não tinha dinheiro nem para pagar a entrada, quanto mais para a consumação de uma das "moças" frequentadoras habituais). A música era ao vivo. Nunca soube que tivesse havido uma baderna na Tabaris. 
    Até mais ou menos meus 21 anos, nos fins de semana, minha mãe só dormia depois das três e meia ou quatro horas, pois ficava esperando ouvir o barulho do "bonde coruja" chegando no fim da linha, travando, trocando a alavanca e voltando. Quinze ou vinte minutos depois eu chegava em casa.
   Lá por 1959, passei a usar uma linha de ônibus que passava em frente a nossa casa, depois da meia-noite, de uma em uma hora. Aquela comunicação entre o bonde a minha mãe foi especial. Até hoje ela conta que vez ou outra sonha e acorda sobressaltada, por ter ouvido o bonde chegar no fim-da-linha. A única vez que saí dos trilhos, segundo a minha mãe, foi quando comecei a andar de ônibus, mas aí a velha tia não mais existia. 




terça-feira, 3 de setembro de 2013

Ação da Carris na Zona Norte

Na madrugada do último sábado fomos todos surpreendidos com a triste notícia do rompimento de um dique na zona norte de Porto Alegre, fato que deixou centenas de famílias desabrigadas. Desde sábado de manhã que a Cia. Carris auxilia no deslocamento dos moradores da região que ficaram desalojados, utilizando dois ônibus que levam as famílias desde as suas casas até a EMEB Dr. Liberato Salzano Vieira da Cunha, local onde estão sendo cadastrados e alojados. A Unidade de Atendimento Psicosocial da Companhia oferece apoio psicológico aos afetados pelo incidente. Em momentos como estes toda a ajuda é bem vinda. As doações para os moradores do Bairro Sarandi podem ser encaminhados à EMEB Dr. Liberato Salzano Vieira da Cunha (Rua Xavier de Carvalho, 247). No momento, são especialmente necessários itens como colchões, materiais de higiene pessoal, roupas calçados e alimento para consumo imediato, como pão, manteiga, frutas, entre outros. Postaremos a seguir fotos da ação da Carris no Bairro Sarandi durante o sábado. 












* Obs: para produzir este texto utilizamos as informações postadas no facebook "Carris POA".

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Acampamento Farroupilha

Na semana passada iniciou em Porto Alegre a montagem dos piquetes que irão compor o Acampamento Farroupilha. A abertura oficial do Acampamento está marcada para o dia sete de setembro, quando a chama crioula chegará, dando início as atividades. 
Esta edição da Semana Farroupilha terá como tema "O Rio Grande do Sul no imaginário social". O imaginário resulta de um vasto conjunto de imagens, símbolos e ritos, enfim, do conjunto de experiências coletivas ou individuais de uma sociedade. 
O piquete "Herança Pampeana", da Cia. Carris, já está quase pronto. Através do piquete, nós da Unidade de Documentação e Memória participaremos das atividades culturais desta Semana Farroupilha. Nossa equipe já vêm a algumas semanas "bolando" atividades culturais que façam referência ao rico imaginário do Rio Grande do Sul.
Com certeza, os amigos que nos visitarem a partir do próximo dia sete lá no acampamento serão muito bem recebidos e poderão se surpreender com nossas atividades culturais. A seguir, iremos postar algumas imagens de acampamentos anteriores que tiveram a participação da Cia. Carris para já ir criando um "clima" entre nossos leitores.






segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A Rosácea


Ainda falando sobre as crônicas dos 130 anos da Carris, escolhemos mais um texto que fez parte do livro "Carris, relatos da história e outras memória". Para hoje optamos por uma crônica bem leve e divertida, para alegrar um pouco a segunda feira.
A Rosácea
Janjão era um tipo bastante curioso por não ter escrúpulo em dizer ou fazer algo que pudesse passar alguém para trás, a ponto de dizer a bom som que não pagava nem promessa para santo. Era o protótipo do amigo da onça, do inesquecível Péricles... Todos os dias, às 8 horas, pegava ele, o bonde em frente ao cinema Castelo, na Av. Azenha, descendo na Rua Sarmento Leite, pois era bedel da Universidade. Retornava às 17 horas, pegava o bonde na Praça do Portão e descia no Cine Castelo.
Um dia bolou um plano e a pôs em prática. Subiu no bonde, sentou-se e quando o cobrador cobrou a passagem, ele tirou a carteira do bolso do casaco, abriu-a retirando uma bonita cédula rosácea. Levou-a na direção do trocador, que a repeliu dizendo não ter troco, fazendo trejeitos.
Janjão guardou a mesma na carteira e esta, no bolso. Virou-se para a janela, passando a olhar a paisagem do trajeto. Assim passou-se quase um mês de sucesso, pois quando algum cobrador perguntava se ele não tinha menos, ele dizia: - A obrigação de ter troco não é do passageiro, mas do cobrador!!
Mas, numa tarde em que voltava para casa, subiu no bonde pelo lado esquerdo do motorneiro. este tinha ao seu lado um fiscal que percebeu o cenho alto do colega e dirigiu-se para o meio do bonde postando-se atrás do cobrador, fazendo um discreto sinal para um inspetor que estava junto a uma das portas traseiras do bonde. Este também chegou-se para o seu lado. Janjão sentou-se.O cobrador chegou e ele tirou a carteira do bolso, abriu-a retirando a rosácea. Essa era uma cédula de 50 mil réis com o carimbo de 50 cruzeiros com a efígie de Xavier da Silveira, que circulou até o início dos anos 50, assim conhecida entre os numismais. Mostrou-a ao cobrador que a segurou rapidamente passando-a ao cobrador que a segurou rapidamente passando-a ao fiscal, que, simultaneamente, a entregou ao inspetor. Este entregou ao fiscal um saquinho com moedas, que por sua vez, repassou ao cobrador, que entregou ao Janjão, que atônito, o pegou nas mãos, ouvindo do cobrador: - Senhor! Este saquinho contém 99 moedas de 50 centavos, ou seja: 
Quarenta e nove cruzeiros e cinquenta centavos. Com elas o senhor pode viajar 99 vezes sem encontrar dificuldades de troco!! Com agradecimento da Companhia Carris Porto-Alegrense... Por certo deve ter passado por sua mente um velho ditado... "A raposa, tanto vai ao ninho, que um dia deixa o focinho". 


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A última viagem do bonde gaiola

No ano de 2002, para comemorar os 130 anos da Companhia Carris, foi lançado um concurso de contos que relatassem memórias sobre a Carris. Os textos que tiveram uma boa classificação foram reunidos em um livro intitulado "Centro e trinta anos Carris: relatos da história e outras memórias". Iremos transcrever a baixo trechos do conto intitulado "A última viagem do bonde gaiola", escrito por Clovis Milton Duval Wanmacher: 
Desci a Rua Clara até a Rua da Parais e corri em direção à parada de bonde, o frio castigando as pernas por causa das calças curtas. Em seguida ouvi o rangido do bonde Gasômetro. Era um bonde "gaiola", cantando e dançado sobre os trilhos. 
-"Tem lugar, vamos dar mais um passinho ao fundo do corredor, repetia o motorneiro". Não dei bola e sentei-me num banco lateral da frente, de onde podia bisbilhotar os outros passageiros. Para me distrair comecei a ler os reclame fixados no bonde. Lá estava o xarope Bromil, o amigo do peito. E eu, que já tinha chiado do peito, fiquei a matutar se algum dia ainda consideraria o Bromil tão amigo quanto o Heron, meu colega da quarta série e filho de um cobrador de bonde. Aquele sim era amigo do peito (...). 
O bonde parou em frente a Pharmacia  carvalho. Na fachada havia um reclame da Pomada São Lázaro, um santo remédio. mas como o remédio podia ser santo? (...) Vi de relance a mulher da Pharmácia Carvalho, bem bonita, apesar de já ter mais de vinte anos. Continuei lendo os reclames: "Contra dores, queimaduras, torcicolos, torceduras, reumatismo, contusões, um remédio já usei e pronto alívio encontrei, com Pronto Alívio Radway". Meu Deus, pensei, o que seria Radway? (...). O gaiola parou, esperando a passagem de outro bonde pelos trilhos da frente. Uma guria da minha idade sentou-se à minha frente. Grudei nela e fiquei um baita tempo secando, só para ver se ela me dava bola. O gaiola voltou a andar, gingando nos trilhos com aquele rebolado que mais parecia o da mulher da Pharmacia Carvalho. Meio minuto depois comecei a achar a guria feia e voltei a olhar os reclames. lá estava o homem com o bacalhau nas costas. Deus do céu! Que coisa mais horrorosa aquele óleo de fígado de bacalhau, chegava a embrulhar o estômago. Ao lado do bacalhau estava o Vinho Reconstituinte Silva Araújo. Mas que palavra mais feia aquela, reconstituinte. Que será que significava? Credo, pensei cá com os meus botões, mas como tem palavra esquisita. Então me lembrei da vez em que o tio José trouxera garrafão de vinho doce e bebi uma caneca inteirinha. Além de ficar tonto e me esborrachar no chão, levei uma baita tunda do meu pai. 
Quando o bonde fez a curva na Casa Guaspari e entrou no abrigo da Praça Quinze, o motorneiro avisou que o bonde gaiola voltaria para o fim da linha, no Gasômetro, e que a gente deveria descer e fazer uma baldeação. Troquei de bonde e continuei a minha viagem, com a cabeça no ar, contando os postes, até descer na parada do colégio. No dia seguinte, os bondes foram recolhidos, e com eles, um pedaço da minha infância. 

Abaixo uma imagem de um bonde "gaiola".
 



segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Um bom motivo para usar o freio...

Iremos agora transcrever uma crônica escrita por um ex colega de empresa, o senhor Celso Gonzaga Porto. Em sua crônica, o senhor Celso nos conta um pouco sobre como era o treinamento dado aos aspirantes motorneiros na época dos bondes. Como poderemos ver, este era um treinamento bastante "puxado" e eficiente: 

Um bom motivo para usar o freio

A Companhia Carris Porto-Alegrense foi famosa no tempo em que utilizava um padrão administrativo americano. Disciplina e rigorismo eram essenciais em todo e qualquer setor da empresa, o que denotava uma administração impecável. E assim era também no quesito de treinamento. 
O treinamento mais rigoroso envolvia candidatos a motorneiro de bonde, nome dado ao profissional que conduzia o veículo. O motorneiro era, em verdade, o "motorista do bonde". Por essa razão, tal treinamento não poderia ser superficial, visto que, no dia a dia, esses futuros profissionais teriam muitas vidas humanas sob sua responsabilidade. 
Por vários dias, um bonde devidamente identificado com os dizeres "EM TREINAMENTO", circulava pelas diversas linhas que constituíam a rede ferroviária da Carris. No comando do grupo de aprendizes, estava sempre um profissional experiente e conhecedor de todos os meandros da arte de "pilotar" um bonde, que procurava intensificar, na prática, os conhecimentos trazidos das aulas teóricas. 
O bonde era considerado um veículo seguro. Essa segurança era devida aos diversos sistemas de freio que ele possuía. Todo motorneiro era condicionado a conhecer e saber usar os recursos que o veículo oferecia. Entre esses estava o freio normal a vácuo, acionado por uma alavanca manual junto ao controle do bonde; a reversão, recurso em uma chave que, ao ser invertida na sua posição, fazia o bonde andar para trás; uma alavanca redonda, à direita dos controles, quando girada manualmente, acionava o freio mecânico; um sistema que, em dias de chuva, colocava areia sobre os trilhos para evitar derrapagem. Além desses, havia mais outros recursos que poderiam ser acionados em emergências. 
Os aprendizes portavam orgulhosos seu uniforme cáqui, tradicional da Carris, devidamente limpos, bem passados e "engomados". O fardamento impecável era parte de cobrança ao bom profissional.
Um dos artífices na formação de novos motorneiros era  seu Eugênio. Figura respeitadíssima por todo servidor que teve a graça de conviver com ele em diversos momentos da Carris. Respeitado por seu rigorismo e por sua disciplina, que se refletiam até no ritual que mantinha nos horários de início e fim dos intervalos para o cafezinho, hábito mantido pela manhã e tarde no expediente da empresa. 
Segundo relato de velhos motorneiros, seu Eugênio postava-se na plataforma dianteira, ao lado do aprendiz, e ali solicitava-lhe as tarefas para que só a presença do instrutor ali era motivo de muita tensão. Para complementar o teste seu Eugênio solicitava ao futuro motorneiro:
-Me dê a sua túnica (casaco do uniforme).
Ato contínuo, ordenava ao aprendiz: 'Agora coloque oito pontos'. 
Oito pontos era a velocidade máxima, possível de ser desenvolvida pelo bonde e, normalmente, a pedida era feita uma grande reta. Quando o bonde atingia a velocidade máxima, seu Eugênio jogava nos trilhos a túnica impecável do aprendiz. Neste momento, ele se dividia em ações nos controles do bonde, usando todos os seus recursos de freio para preservar sua peça do uniforme. A partir daí duas coisas poderiam acontecer: o veículo era freado antes de atingir a túnica e o comentário era:
-Muito bem, se fosse uma pessoa o senhor não a teria matado.
Caso contrário além de destruir a peça do seu uniforme, o comentário era outro:
- O senhor está reprovado. Se sua túnica fosse uma pessoa, ela agora estaria morta. 
Resultado: além de perder o casaco, o candidato perderia também o emprego". 


 

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Prefeitura na Comunidade

No último sábado, dia 27, nossa equipe da Unidade de Documentação e Memória Carris, participou de uma nova ação da Prefeitura de Porto Alegre: o projeto "Prefeitura na Comunidade". Trata-se de um projeto que busca integrar comunidades porto-alegrenses com a Prefeitura. Várias Secretarias do Município participaram da primeira edição do projeto que ocorreu  na Lomba do Pinheiro. Nossa Unidade esteve presente com o Museu Itinerante Memória Carris. Durante a manhã estivemos na Agrovete e a tarde fomos até a Vila Mapa.O sábado estava lindo, e a participação das pessoas foi muito legal! Postamos a baixo algumas imagens desta edição do projeto. 




 Nosso "motora", Leonardo, dirigindo o Memória Carris. 


Prefeito Furtunati, Vice Sebastião Melo e comunidade na Agrovete. 



Visitantes do nosso Museu Itinerante.

Crianças tirando foto com o nosso motorneiro ma Vila Mapa. 



 Prefeito e Vice na Vila Mapa.



segunda-feira, 29 de julho de 2013

Com a ajuda do Ismael Bohem

Com a ajuda de nosso colega busólogo Ismael Bohem da Silva, voluntário do Memória Carris, coletamos algumas informações sobre a história de veículos que prestam serviços importantes para a comunidade. O Ismael tem um conhecimento grande sobre este assunto, pedimos então para ele escrever  um texto falando sobre o que ele sabe sobre os veículos responsáveis por parte do transporte coletivo (catamarã, trensurb e aeromóvel) e os veículos utilizados pela Brigada Militar, e pela SAMU. Algumas das informações que nos foram passadas pelo Ismael serão reproduzidas aqui no blog.
 Veículos da Brigada Militar: De acordo com o Ismael, durante a década de 1970 a frota da Brigada Militar era composta principalmente por caminhonetes Veraneio e carros Opala. Já na década de 1980 e 1990 a Brigada também passou a utilizar veículos da Fiat como o Uno, o Prêmio, o Elba  e automóveis Chevrolet como o Kadett e a Ipanema.
SAMU (Serviço de Atendimento Médico de Urgência): Sobre estes veículos, o Ismael conta que na década de 1990 a Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre utilizava para o serviço de emergência veículos da Mercedes Benz. Nos anos de 2000, entretanto, o serviço prestado pelas SAMU foi federalizado, ou seja, veículos deste tipo passaram a ser distribuídos para diferentes municípios brasileiros. A SAMU em Porto Alegre, entretanto, se diferenciava pelas cores: os veículos eram todos brancos com listas azuis, quadrados azuis e com letras brancas. 
Trensurb:  Em 1980 foi criada uma linha experimental da Trensurb que ia até Sapucaia do Sul. Foram feitos  testes com diferentes modelos de composições (trens). No ano de 1984 foi escolhida a composição da fabricante japonesa Hitachi. A operação do Trensurb, entretanto, somente iniciou no ano de 1985. De acordo com o texto do Ismael,  a composição de trens do Trensurb chegou a Porto Alegre de navio. Ocorreu uma comemoração no Centro de Porto Alegre para marcar este momento. Em 1997 o trem iniciou as viagens até a estação Unisinos, em 2000 até o Centro do município de São Leopoldo. No ano passado começaram as operações do trem nas estações Rio dos Sinos e Santo Afonso, respectivamente nos municípios de São Leopoldo e Novo Hamburgo. Está previsto até o final deste ano a inauguração da estação Novo Hamburgo, localizada na área central deste cidade.
Aeromóvel: Os "experimentos" com o aeromóvel em Porto Alegre iniciaram no ano de 1982 quando foi criada uma linha experimental. Apesar do projeto ter sido aprovado pelos responsáveis da época, a conclusão das obras necessárias ao aeromóvel foram consideras muito dispendiosas, fazendo com que o projeto não fosse levado a diante. Atualmente, uma nova linha está sendo desenvolvida integrando a Estação Aeroporto do Trensurb com o terminal 1 do Aeroporto Internacional Salgado Filho. A entrega da obra está marcada para o segundo semestre de Porto Alegre.
Catamarã: O Ismael nos informou que já havia serviço de Catamarã ligando Guaíba e Porto Alegre em1899, segundo ele este serviço existiu até a década de 1960.  Após um longo período, as Catamarãs voltaram a navegar no Guaíba em 2010 em um projeto experimental. Já em 2011 as viagens foram oficialmente reabertas, atualmente a empresa de transporte Ouro e Prata é responsável por este serviço.
Bom, como podemos perceber o Ismael tem várias informações interessantes sobre os meios de transporte utilizados tanto em Porto Alegre como na região metropolitana. Por isso ele é muito importante em nosso setor, ficamos muito felizes com a presença dele aqui conosco!

Abaixo postamos uma foto do nosso colega busólogo Ismael Bohem da Silva.




segunda-feira, 22 de julho de 2013

Nas férias de inverno ...

Esta é uma semana de férias para a maior parte dos estudantes porto-alegrenses. Apesar do frio e da preguiça de sair de casa, Porto Alegre oferece várias opções de lazer para estes dias de descanso. No intuito de auxiliar nossos leitores que estão de férias na "difícil" tarefa de ocupar seu tempo, apresentamos uma lista de opções de lazer baratas ou gratuitas e de qualidade que estão rolando em Porto Alegre nesta semana. Então fica a dica: colocar um agasalho a mais e sair para curtir a cidade! 
Nossa primeira dica tem a ver com enfrentar o frio com exercícios físicos. Em dias como hoje nada como pedalar no sol para espantar a "friaca". Em Porto Alegre temos o projeto "BikePoA",  as Bicicletas do Bike PoA estão disponíveis em Estações distribuídas em pontos estratégicos da cidade. Para utilizar as bicicletas, é necessário acessar o site www.movesamba.com.br/bikepoa e clicar na opção "cadastre-se". Após, clique no Menu "Passe">"Comprar Passe Bike PoA", leia as instruções de uso, confirme seu Passe Mensal e informe os dados do seu cartão de crédito. Seu passe terá o custo de R$10,00 e terá a validade de um mês. Também é possível adquirir um passe diário pelo valor de R$5,00. Para isso veja no mapa do site a localização das estações e dirija-se a uma delas para retirar a bike desejada. Ligue do seu telefone celular para o número (51)4063 7711; ouça as informações sobre regras e tarifas e digite os dados do seu cartão de crédito. O telefone usado para compra do Passe Diário deverá ser o mesmo utilizado para a liberação da bicicleta. 
Além das bicicletas, também temos várias opções culturais. Para quem gosta de cinema, por exemplo, sugerimos as salas da Casa de Cultura Mario Quintana. Nesta semana está em exibição o novo filme do diretor espanhol Pedro Almodova "Os amantes passageiros", o drama "Ferrugem e ossos", o documentário "Elena" e o filme "Artigas-La Redota". Além dos filmes "Antes da meia-noite", "O sonho de Wadjda" e "O dia que durou 21 anos". As salas de cinema da Casa de Cultura funcionam de terça-feira até domingo, os preços são: terça e quarta-feira R$8,00, de sexta-feira até domingo R$ 10,00 e quinta-feira apenas R$5,00 o ingresso. Para mais informações sobre os filmes e horários das sessões você pode consultar o site:  www.ccmq.com.br. Também está ocorrendo na Casa de Cultura a exposição "A arte do grafite e o grafite da moda", que ficará neste espaço até o dia oito de agosto. 
No Museu Julio de Castilho ocorre a Exposição "Ares de um Novo Estilo", que conta um pouco da história do uso dos leques ao longo do tempo. No Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, está ocorrendo a exposição de charges "Tradição, Folclore e Humor" até o dia quatro de agosto. Todas estas exposições têm entrada gratuita, museus geralmente funcionam de terça-feira a domingo em horário comercial. 
Uma sugestão que se destaca é a nossa exposição "Temporânea", que está a partir de hoje no Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo, localizado no Bairro Cidade Baixa. Além de conhecer nossa exposição, esta é uma boa oportunidade de conhecer o Museu de Porto Alegre, localizado em um belo casarão do século XIX. Enfim, não faltam boas sugestões para curtir o friozinho em Porto Alegre, é só se encher de coragem e sair para a rua!
Postamos algumas fotos de Porto Alegre para servirem de inspiração para os mais preguiçosos. 

 











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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Exposição Temporânea

Semana que vêm iremos novamente realizar o transporte de mudança da exposição Temporânea. Atualmente, nossa exposição  encontra-se no Arquivo Público do Estado, localizado na Rua Riachuelo número 1031. A partir do dia 22 de julho ela passará a ocupar um espaço no Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo, localizado na Rua João Alfredo, número 582. A Temporânea ficará no Museu de Porto Alegre por dois meses, ou seja, estaremos lá até dia 22 de setembro. Esta é uma excelente dica para as férias de julho: visitar museus a outros espaços de memória localizados em Porto Alegre.Visitando os espaços que abrigam a Exposição Temporânea, por exemplo, você terá a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o Centro Histórico de Porto Alegre a partir de uma forma de apresentação bastante inovadora. Com a Temporânea, se pensou em dar visibilidade aos processos de recuperação de territórios em Porto Alegre, tendo como foco a revitalização do Centro Histórico. A mostra apresenta uma narrativa hipertextual - com vídeos, grafite, fotografias, textos históricos, poesias, crônicas, letras de músicas, reproduções pictóricas – dividida em 04 eixos: Cidade Antiga, Cidade Contemporânea, Cidade do Futuro e Coração da Cidade, demonstrando os encontros e desencontros das diferentes temporalidades da cidade. A exposição busca ressaltar a importância da preservação e valorização do patrimônio urbano, despertando laços de pertencimento e identificação na comunidade, incentivando, dessa forma, a ocupação dos espaços públicos e a participação efetiva na construção da cidade. Fica a dica então para as próximas semanas de férias escolares: visite a Exposição Temporânea no Arquivo público do Estado ou, a partir da semana que vêm, no Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo. 

 A baixo postamos algumas imagens utilizadas na nossa Exposição: