quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Para os nossos antigos colegas


Para os nossos antigos colegas


Esta semana recebemos uma visita muito especial de uma ex-funcionária da Companhia. Trata-se da senhora  Lídice Souza, que trabalhou na Carris entre 1977 e 1993. Com a visita desta colega lembramos da importância que os antigos funcionários da companhia têm na construção da história da Carris. Independente do setor da empresa em que trabalharam: na operação dos bondes ou ônibus, na manutenção das máquinas ou na administração da Cia,  foi o trabalho destas pessoas que construiu a história de sucesso da Carris em Porto Alegre. Por isso, nosso imenso respeito e carinho. Como reconstruir o dia-dia de centenas de trabalhadores a partir de alguns poucos vestígios do passado? Como interpretar documentos, fotos, imagens e a partir deste elementos perceber as intenções de atitudes tomadas ao longo dos 140 anos de existência da Cia? Estes são alguns dos desafios vivenciados pelos setores que se dedicam a memória de uma instituição. Aqui na Carris, felizmente, temos para nos ajudar a parceria de ex-funcionários que usam nossas redes sociais para enviar informações ou que nos procuram para nos dar seus depoimentos, como a dona Lídice. Trabalhando aqui no Memória Carris percebemos que o carinho do porto-alegrense pela sua cidade se reflete na atenção e afeto demonstrado pela história da Carris. Isto só pode ser fruto de um trabalho bem feito, realizado por estas pessoas durante décadas e que resultou nesta íntima relação entre ser porto-alegrense e se transportar com a Carris. Postaremos a seguir algumas das imagens que nos foram doadas pela Lídice e que apresentam momentos do trabalho de antigos funcionários da Companhia.











segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Eu ia tomar um bonde amarelo


Eu ia tomar um bonde amarelo 

Os seguintes versos foram escritos por Jorge Adelar Finatto e postados em seu blog "O fazedor de auroras" em agosto de 2011. Estes versos, bem singelos, apresentam muito do sentimento de saudades de porto alegrenses que vivenciaram o tempo dos bondes. Após os versos, postamos a imagem de um "bonde amarelo" na esperança de amenizar um pouco a melancolia dos mais saudosistas. 

Eu ia tomar um bonde amarelo

                                        Jorge Adelar Finatto
Eu ia tomar um bonde amarelo
e dar um giro pela cidade
mas não existe mais o bonde amarelo
nem eu tenho dez anos

me engano ou essa cidade
mudou de endereço
se não, como explicar tanta gente
desconhecida nas ruas
e os amigos perdidos nas esquinas
do tempo do bonde?

Relatorio da Directoria Companhia Força e Luz Porto Alegrense

Relatorio da Directoria da Companhia Força e Luz Porto Alegrense


Temos em mãos um documento de 1909. Trata-se do relatório da Diretoria da Companhia Força e Luz da cidade de Porto Alegre, empresa que foi responsável pela distribuição de energia e pelo transporte público na cidade até meados da década de 1920, quando suas usinas termoelétricas passaram para a Companhia de Energia Elétrica Rio-Grandense (CEERG) e seu controle acionário para a empresa norte-americana Eletric Bond and Share. Foi a partir deste período, na década de 1920, que a empresa responsável na época pelo transporte de bondes em Porto Alegre adquiriu o nome pelo qual é conhecido até hoje: Companhia Carris Porto-alegrense. Neste relatório de 1909 (3 anos após ao início da circulação de bondes elétricos nesta Capital), foi discutida uma propostas de compra da companhia. Iremos transcrever um trecho do citado relatório para melhor entendermos como se deram estas negociações que, na realidade, não tiveram sucesso. "(...) Proposta de compra da companhia - A assembléa geral extraordinaria dos snrs. accionistas, realisada em 16 de janeiro de 1909, teve conhecimento da proposta pela Anglo South American Public Works Company Limited para adquirir todos os bens da Companhia Força e Luz Porto Alegrense. A proposta, datada de 7 daquelle mez e anno, e apresentada pelo Snr. Ambrosio Archer, Consul Britannico nesta capital, mereceu a acceitação da assembléa geral então reunida; o completo termo da transacção, e este lapso de tempo se houvesse escoado sem que a venda tivesse lugar, foi convocada a assembléia geral extraordinaria de 22 de junho de 1909, que deliberou não conceder a extensão do praso, como nessa occasião pedira a Anglo Soth American Company (...)". 
Torna-se importante salientar que a transcrição do documento foi feita respeitando a grafia correta do português na época em questão. A seguir anexamos uma fotografia de Porto Alegre das primeiras décadas do século XX.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Elétrico 28, uma viagem a Lisboa


Elétrico 28, uma viagem a Lisboa

Folhando o livro "A beleza de Lisboa, Elétrico 28: uma viagem na história", presente em nosso acervo, encontramos uma verdadeira declaração de amor a cidade de Lisboa e aos seus elétricos. Considerando que os porto-alegrenses compartilham  com os lisboetas esse amor por sua própria cidade, iremos transcrever trechos do citado livro no intuito de inspirar os porto-alegrenses que também admiram  a sua terra: 

"(...) Este livro é uma singela homenagem a Lisboa, esta maravilhosa cidade de luz e cor, de colinas e miradouros, este Tejo de águas azuis. É um tributo à sua história milenar e aos povos que aqui estiveram e estão. É também um elogio a um dos ícones desta cidade - o Elétrico 28 - que percorre as históricas ruas e praças de Lisboa embalando o quotidianos dos lisboetas com o tilintar de sua campainha. É abordo do 28 que se descobrem muitos segredos de Lisboa, muito de sua monumentalidade e toda a sua beleza. É no balouçar sobre os centenários carris que a vida desta cidade se guarda e se renova, que a memória se aviva, que os grandes vultos de Portugal ganham vida outra vez. É também a bordo do Elétrico 28 que as mais variadas gentes se encontram, recuperando a secular vocação multicultural de Lisboa. Turistas e lisboetas, portugueses e estrangeiros, ricos e pobres comungam a beleza de Lisboa nos dias quentes de verão. As janelas abertas do Elétrico 28 deixam entrar o aroma dos jardins, o colorido dos jacarandás, a brisa que despenteia o cabelo dos passageiros. É pelas janelas do 28 que se avista a cristalina luz do sol, a banhar cada esquina, cada calçada, cada edifício do trajecto, pincelando de cor o recorte perfeito de Lisboa. No sobe-e-desce pelas colinas, o 28 pulsa com a vibração de uma cidade linda que é a referência milenar de um país que redesenhou o mapa do mundo com os seus audazes navegantes (...)".  Abaixo, uma imagem dos bondes da Carris de Portugal que circulam pelas ruas de Lisboa. 


Fonte completa do livro: Arruda, Nysse "A beleza de Lisboa, Eléctrico 28 - Uma viagem na história". Lisboa, 2010.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Famosos da Carris, Parte 2

Mais um personagem da série "Famosos da Carris", foi Lupicinio Rodrigues.



Lupicínio Rodrigues trabalhou como aprendiz de mecânico de bondes na Carris, em 1930. Seu pai queria que o garoto aprendesse um ofício e deixasse de lado a precoce inclinação para a boemia. Mas, para o bem do samba, a Carris perdeu um mecânico e a Música Popular Brasileira ganhou um de seus melhores compositores.

Além de ter sido funcionário da Carris, Lupícinio criou o Hino do Grêmio, e a frase "Até a pé nós iremos" foi em ocasião a um jogo decisivo do Grêmio na antiga Baixada, e os funcionários da Carris entraram em greve, então muitos torcedores iam ao estágio a pé.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A "certidão de nascimento" da circulação de ônibus


A "certidão de nascimento" da circulação de ônibus em Porto Alegre

Entre a documentação presente em nossos arquivos, encontramos o contrato celebrado entre a Prefeitura de Porto Alegre e a Companhia Carris Porto-Alegrense de 1928. Este contrato foi elaborado modificando aspectos do anterior, firmado em 1925. Trata-se, na verdade, da "certidão de nascimento" da circulação dos ônibus em  Porto Alegre. Nele estão acordados como deveria ocorrer a inclusão deste meio de transporte entre os serviços prestados pela Companhia Carris. Através da transcrição de alguns trechos desta documentação, será possível observar, além das diferenças ortográfica entre a época e o presente, aspectos da relação entre a Companhia e o Município no período em questão. Vale a pena lembrar que neste momento a Companhia Carris pertencia a um grupo norte-americano, sendo, portanto, uma empresa privada: "(...) Aos 13 de setembro de 1928 na Intendencia Municipal de Porto Alegre, sala da Procuradoria, presente a Municipalidade de Porto Alegre, representada pelo Major Alberto Bins, Vice Intendente em exercício, e a Companhia carris Porto Alegrense, representada pelo seu bastante procurador, George E. Sands (...) convencionaram alterar o convencionaram alterar o contracto celebrado em dois de maio de mil novecentos e vinte cinco e additamento de vinte e tres de outubro do memsmo anno, substituindo as clausulas em vigôr pelas seguintes:

CLAUSULA I

I A Intendencia Municipal reconhece à Companhia, dentro do município, o direito exclusivo de explorar o serviço de transporte collectivo, em bondes ou outros vehiculos semelhantes que trafeguem sobre, até 2 de maio de 1975.

II No intuito de dotar a cidade de melhor transporte, visando as necessidades actuaues e futuras, fica a Compainha auctorisada, mas sem privilegios, a complementar e extender o seu serviço de bondes por serviço de auto-omnibus (...). Entende-se tambem que à Companhia será facultado augmentar a capacidade de transporte das actuaes linhas de bondes, fazendo um serviçi complementar com auto-omnibus (...)". Torna-se interessante observar que os bondes deixaram de circular em Porto Alegre em 1970, a pesar da companhia ter o direito de explorá-los até 1975. Os chamados na época como "auto-omnibus", passaram a circular na cidade no ano de 1929, um ano, portanto, após a celebração do contrato a cima citatdo. 



FOTO: Primeiro ônibus de transporte público que circulou em Porto Alegre, no ano de 1929.

Série " Famosos da Carris".


Série " Famosos da Carris" nessa série iremos retratar alguns nomes de "celebridades" que passaram pelo quadro funcional da Carris.


Começaremos pelo " Pedro Raymundo"
 Na época comandada pelos norte-americanos - o grupo Bond & Share controlou a Carris desde 1929 a 1954 -, a empresa começava a investir em lazer e cultura para os cerca de 500 funcionários. E o ritmo do jazz - muito em voga então - tinha tudo a ver com o que o diretor Mister Millender pretendia: além de entreter os trabalhadores, difundia a cultura dos Estados Unidos. O Diretor exigia que os membros fossem funcionários da Carris, mas foi feito um levantamento e segundo o responsável pela convocação não tinha funcionários com experiência seria necessario a contratação de musicos para instruir o pessoal. O presidente autorizou a contratação mas ele exigia que os músicos entrassem para o quadro Carris, então musicos, atores viraram Motorneiros, Condutores, Fiscais e etc. Um deles foi o gaiteiro Pedro Raymundo, autor da célebre canção Adeus Mariana. O catarinense, que se tornaria o primeiro músico a fazer sucesso nacional pilchado de gaúcho, atuou como condutor de bonde na companhia, entre 1929 e 1933.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Dia do Cobrador








 Dia 15 de Janeiro, é comemorado na Cia Carris. o " Dia do Cobrador".
A Carris tem por hábito, valorizar e homenagear seus Colaboradores em datas especificas. Hoje não foi diferente as 4 :30 estavam presentes na Cia. membros da Diretoria  e demais colaboradores para homenagear e presentear os Cobradores. O presente deste ano foi uma Calculadora porta cartões juntamente com uma Poesia do Colaborador da UDM  Paulo Renato, carinhosamente elem produziu uma poesia para homenagear os seus Colegas, por muito tempo Paulo teve um contato direto cm os cobradores pois era Motorista.







A Carris, tem no quadro de funcionários belos profissionais que sempre buscam uma maneira diferente e especial de atender a população como no caso do "Melancia" um cobrador que já é conhecido da população por organizar festas de aniversário no ônibus.
As histórias são muitas, temos tudo registrado em nosso programa de historia oral.

O cobrador, que era chamado de condutor ou trocador; aquele profissional que atenciosamente avisa o ponto certo para saltar, conversa, a atende com cordialidade  passageiro. Até marchinhas de carnaval em sua homenagem foram criadas.

                                                               

No tempo do bonde de forma ágil segurava o dinheiro e as passagens entre os dedos, andava de um lado para o outro cobrando as pessoas, e para o seu controle tinha o controlador de passagem. Quando o bonde chegava no final da linha era uma correria, reverter os bancos e aquele barulho ficou na mente de muitos dos saudosistas.

É claro os tempos são outros, bilhetagem eletrônica, roleta entre outros. Mas sua importância na diminuiu e o dia a dia da cidade depende do trabalho deste profissional.... Abaixo a matéria que saiu hoje na ZH.





















                                                                  





segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Trilhos na Voluntários da Pátria


Trilhos na Voluntários da Pátria

Neste último sábado Porto Alegre teve parte do seu passado literalmente "remexido". Os antigos trilhos de bonde localizados na Rua Voluntários da Pátria foram retirados. A pesar dos bondes já não circularem em Porto Alegre desde 1970, os trilhos localizados na Voluntários persisitiram naquele espaço até o final da semana passada. Na época em que a circulação de bondes foi encerrada, a prefeitura optou pela retirada dos trilhos de algumas ruas e avenidas onde havia maior urgência de pavimentação. O critério da escolha foram locais em que existia um fluxo maior de carros e ônibus. Esta escolha foi necessária em função do alto custo da remoção dos trilhos (não haveria recursos para remover todos de uma vez só) e para evitar maiores problemas de circulação no trânsito por inteiro.  Os trilhos localizados em outras ruas e avenidas não consideradas prioritárias seriam retirados gradativamente, de acordo com reformas como de alargamento, colocação de encanamento, etc. Desta forma, ainda é possível encontrar ruas em Porto Alegre em que os trilhos permanecem presentes.  A retirada dos trilhos na Voluntários da Pátria "remexe" com a memória da cidade, mexe com a sensibilidade de muitos porto-alegrenses que relembram neste momento sua infância ou juventude, em que o bonde fazia parte de seu cotidiano.


FOTO: fotografia retirada sábado na rua Voluntários da Pátria durante a remoção de trilhos.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Paz e amor, bixo.


Paz e amor, bixo.

 Ainda sobre as comemorações dos cem anos de Carris, um outro anúncio da  mesma campanha do último texto bloguado chama a atenção pela sua linguagem e girias, todas bem ao estilo da época (década de 1970). O anúncio inicia com a seguinte manchete: "Carris? Paz e amor, bixo."Ao lado da imagem de um jovem "cabeludo"  encontra-se o seguinte depoimento: "Acho muito bacana misturar-me com o povo simples desta minha cidade de Porto Alegre. Me sinto bem nos ônibus da Carris. Não é 'papo furado', gosto do calor humano e dos diálogos sinceros que vou ouvindo durante as viagens de ônibus. Quando me sinto alienado, embarco num ônibus e recebo uma lição de humildade junto à voz do povo, da gente que é gente, com seus problemas e sonhos. Por isso, a Carris tem uma imagem muito boa para mim. Tenho uma ternura especial por ela. Ela está crescendo com a minha cidade e vem melhorando muito. Funciona mesmo. Está tocando para frente e dando tudo que pode. Faz cem anos agora. E parte para a nova sede, sem dormir no passado. Por isso, só posso desejar muita paz e muito amor para Carris. Mais do que uma empresa de transporte coletivo, a Carris é um patrimônio dos porto-alegrenses. E tem uma sede permanente em meu coração." 

 Abaixo, para ajudar a matar a saudade, uma imagem do bairro Cidade Baixa de Porto Alegre na década de 1970.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Como antigamente...

Como antigamente...

No ano de 1972 a Empresa Carris Porto Alegrense completava cem anos de existência. Entre as comemorações, foi realizada uma campanha publicitária vinculada nos jornais da cidade. Ao lado da fotografia de possíveis passageiros da Carris, foram publicados depoimentos dos mesmos sobre a empresa. No jornal "Folha da Tarde" de 19 de junho de 1972 foi publicado um destes anúncios com a manchete "Olha moço, a Carris de hoje não é mais como antigamente". Ao lado da imagem de um simpático senhor foi publicado o seguinte depoimento: "Dizem que hoje a Carris tem 150 ônibus. Que atende muito melhor que no meu tempo. Dizem, até, que hoje é muito mais fácil ir do Partenon até o Mercado. No meu tempo, lá por 27, eu me lembro bem. Todos os dias pegava o bonde da Carris que saia da pracinha do Menino Deus e vinha para o Centro. Fiz isso por mais de 40 anos. E não cansei. Dava até para gente ler uns trechos de um livro de Vargas Villa que eu comprei na Livraria do Globo. é verdade que a cidade foi crescendo, surgindo uns edifícios lá pelo Centro. Agora tudo mudou. Puxa, e parece que foi ontem. Como? A Carris está fazendo cem anos? Bem, então ela merece um abraço. Pois para falar a verdade, eu bem que de vez em quando ainda mato a minha saudade e entro naquele ônibus enormes e confortáveis. Só para não perder o costume. Ah! Coloca aí, moço, que eu acho que a Carris está sempre em meu coração. Mesmo sem os bondes." Podemos perceber, portanto, que o carinho entre os porto-alegrense e a Carris continua hoje como era antigamente....  
Foto: ônibus Carris que circulava na cidade na década de 1970.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Decifrando o universo...

Muitos de nós passamos um bom pedaço do dia nos transportando entre a nossa moradia e os lugares onde trabalhamos, estudamos, etc. Quem usa transporte público sabe que entre uma paisagem e outra que passa pela janela, o ônibus acaba servindo como um local de reflexão. Muitas vezes utilizamos o percurso de deslocamento para "colocarmos em dia" nossas ideias e pensamentos. Lembrando de sua juventude, o porto-alegrense Luis Fernando Veríssimo escreveu sobre o trajeto do bonde Petrópolis e as ideias que passavam em sua mente enquanto fazia a viagem: "(...) Os bondes. Aquele cheiro metálico dos bondes, o barulho que eles faziam, os gemidos, os 'pscht' dos freios. Nossa admiração pelos fiscais que pulavam de um bonde em movimento para outro, fazendo anotações misteriosas nas suas planilhas. O bonde Petrópolis, depois de vir numa boa velocidade pela Oswaldo Aranha, passando pelo Pronto Socorro, pelo muro da área reservada a um Hospital de Clínicas que nunca era construído, pelo cinema Rio Branco, pelo bar que ficava no pé da rua que dava no Colégio Americano e, lá em cima, no IPA, e tinha o melhor sorvete da cidade, começava a subir, lentamente, a Protásio Alves. Como era lenta a subida do bonde Petrópolis pela Protásio Alves. Mas não me lembro de achar que era perda de tempo. Aproveitava-se para pensar na vida, ou no que passava por vida na adolescência. Nada como um bonde lento para meditar sobre o significado de todas as coisas. Sempre imaginei que se a linha Petrópolis fose um pouco mais longa eu teria decifrado o Universo (...)".
Fonte: Veríssimo, Luis Fernando "Traçando Porto Alegre", ilustrações de Joaquim da Fonseca. 9ª ed. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2009. (pág. 28 e 29). 




 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Saudade...


O bonde fazia parte do cotidiano de Porto Alegre, amores nasceram nos bondes, amizades eram feitas, desfeitas e refeitas nas longas viagens. Intelectuais comentaram que durante muitos percursos de bondes eram discutidos o "destino da humanidade". O bonde tem um lugar especial no coração do Porto Alegrense, muitos ainda lembram do barulho que fazia nos trilhos, a cor do uniforme do motorneiro, o barulho dos "bancos reversíveis" , a maneira em que o condutor segurava o dinheiro entre os dedos, a passagem que era usada no comércio entre outras histórias. Quando os bonde foram retirados para dar lugar a modernidade deixaram muita saudades. Corações de quem viveu nos gloriosos tempos dos elétricos bateram com mais emoção quando em mais uma obra que buscava  modernizar o transporte trilhos escondidos foram re-encontrados participando mais uma vez do dia-a-dia da cidade. A situação reacendeu no coração de quem viveu e de quem escuta as maravilhosas histórias "de gaiolas, miller's, coca-colas" a vontade de sentir o quão maravilhoso e ter eles presentes no cotidiano.


Não sabia que uns velhos trilhos de bonde podem mexer com a gente depois de tanto tempo. Isso aconteceu quando descobri que havia trilhos escondidos na escuridão da terra, sob a Avenida Protásio Alves, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre.

O leito da avenida está em obras para receber o sistema de ônibus rápidos. Ao realizarem os trabalhos, os operários retiraram o asfalto e escavaram cerca de 80 centímetros no subsolo.


Passava pelo local outro dia e parei para olhar. Percebi então, com assombro, que no fundo do buraco havia os trilhos do bonde que ligava o bairro ao centro da cidade. Sim, vetustos trilhos que estavam soterrados reapareceram.
A escavação significou um mergulho no tempo. Encontrou uma cidade que não existe mais.

Os bondes deixaram de circular em março de 1970, infelizmente.

Eu morei  perto do lugar das obras quando menino.


Por um momento me vi outra vez passageiro do bonde, a cara na janela pegando vento, descendo e subindo a colina sobre a qual se ergue o bairro Petrópolis.

Recolheria os trilhos e guardaria num cofre, se possível fosse. Eles dão testemunho de uma época e de um modo de viver.
Difícil explicar que não são meros pedaços de aço que afloraram do chão, são caminhos perdidos no tempo. No passado, eles conduziram as pessoas diariamente nos rumos de suas vidas. Muito cansaço, muita esperança e sonho eles carregaram.

A descoberta foi como se tivessem escavado o interior do meu coração.

   
Um pedaço do que eu  fui caminha naqueles trilhos.
Jorge Adelar Finatto

Retirado de: http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/