quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Saudade...


O bonde fazia parte do cotidiano de Porto Alegre, amores nasceram nos bondes, amizades eram feitas, desfeitas e refeitas nas longas viagens. Intelectuais comentaram que durante muitos percursos de bondes eram discutidos o "destino da humanidade". O bonde tem um lugar especial no coração do Porto Alegrense, muitos ainda lembram do barulho que fazia nos trilhos, a cor do uniforme do motorneiro, o barulho dos "bancos reversíveis" , a maneira em que o condutor segurava o dinheiro entre os dedos, a passagem que era usada no comércio entre outras histórias. Quando os bonde foram retirados para dar lugar a modernidade deixaram muita saudades. Corações de quem viveu nos gloriosos tempos dos elétricos bateram com mais emoção quando em mais uma obra que buscava  modernizar o transporte trilhos escondidos foram re-encontrados participando mais uma vez do dia-a-dia da cidade. A situação reacendeu no coração de quem viveu e de quem escuta as maravilhosas histórias "de gaiolas, miller's, coca-colas" a vontade de sentir o quão maravilhoso e ter eles presentes no cotidiano.


Não sabia que uns velhos trilhos de bonde podem mexer com a gente depois de tanto tempo. Isso aconteceu quando descobri que havia trilhos escondidos na escuridão da terra, sob a Avenida Protásio Alves, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre.

O leito da avenida está em obras para receber o sistema de ônibus rápidos. Ao realizarem os trabalhos, os operários retiraram o asfalto e escavaram cerca de 80 centímetros no subsolo.


Passava pelo local outro dia e parei para olhar. Percebi então, com assombro, que no fundo do buraco havia os trilhos do bonde que ligava o bairro ao centro da cidade. Sim, vetustos trilhos que estavam soterrados reapareceram.
A escavação significou um mergulho no tempo. Encontrou uma cidade que não existe mais.

Os bondes deixaram de circular em março de 1970, infelizmente.

Eu morei  perto do lugar das obras quando menino.


Por um momento me vi outra vez passageiro do bonde, a cara na janela pegando vento, descendo e subindo a colina sobre a qual se ergue o bairro Petrópolis.

Recolheria os trilhos e guardaria num cofre, se possível fosse. Eles dão testemunho de uma época e de um modo de viver.
Difícil explicar que não são meros pedaços de aço que afloraram do chão, são caminhos perdidos no tempo. No passado, eles conduziram as pessoas diariamente nos rumos de suas vidas. Muito cansaço, muita esperança e sonho eles carregaram.

A descoberta foi como se tivessem escavado o interior do meu coração.

   
Um pedaço do que eu  fui caminha naqueles trilhos.
Jorge Adelar Finatto

Retirado de: http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/

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