segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Exemplo de vida

Semana passada postamos um texto escrito por um usuário da Cia. Carris e que foi publicado no ano de 2002, durante as comemorações dos 130 anos da Carris. Tratou-se do conto "O Bonde da História", de autoria do Senhor Eduardo Costa de Moraes. Como já comentamos anteriormente, este texto fez parte do livro "Cento e Trinta Anos Carris: Relatos da História e Outras Memórias", realizado a partir de um concurso de contos em que vários antigos usuários da Cia. Carris escreveram contos relembrando o seu cotidiano nos veículos da Cia. Hoje postaremos mais um texto que foi selecionado para esta coletânea, trata-se do conto "Exemplo de vida", escrito pelo Senhor Marino Acuan Fernandes.  Como nossos leitores poderão verificar, este é um texto bastante comovente.

"Exemplo de vida

      Menino só, vezes sem conta triste; mãe e pais em trilhas divergentes; separação, afinal. Aquela criança, lá no passado, fazia 12 anos. Mantendo-se firme, não aceitou abandonar os estudos, todavia, como pagar, diariamente, o bonde que o aguardava todos os dias, mesma hora, manhãzita, fim da linha Petrópolis, perto do antigo cinema Ritz?Decidiu-se! Venderia garrafas ao proprietário do bar na esquina da Rua Lagoinha, onde resedia, no mesmo edifício.
     Vizinhos fraternos forneciam as garrafas, muitas com o gargalo quebrado; o proprietário do bar, como que não notando, entregava ao menino o valor da passagem, ida e volta, destino colégio IPA; assim continuou o estudo. Um dia, inverno, muito frio, viu-se frente ao bar; estava fechado, com um aviso preso à porta: 'Hoje, abriremos só a tarde'.  
     Pensou o menino que perderia a sabatina mensal no colégio e decidiu ir a pé à Rua Santa Cecília. Ao chegar perto do fim da linha, lá estava o bonde: que fazer? Tentar a sorte pensou, subindo no bonde e escolhendo um cantinho, rogando a Deus que o cobrador não o visse. Deus, entretanto, não poderia agir assim. Obrou de maneira diversa: homem de meia idade em cujo rosto aflorava grande bondade, olhando o menino assustado, piscou o olho, colocando a mão no próprio bolso, deixando cair uma moeda na abertura do blusão do menino, que, assim, pagou a passagem. Aquela pequena criatura jamais esqueceu o que é fraternidade, e em muitas ocasiões de sua existência, fez o mesmo com irmãos necessitados, lembrando-se sempre daquela face bondosa. Até hoje, associa a Carris aos bondes e seus cobradores. 
     Sabe, mais de cinco decênios se passaram, e o esquecimento não tem guarida no ontem menino, hoje homem de meia-idade. Tudo graças a um cobrador de nossa empresa Carris". 
Postamos a seguir imagens da Porto Alegre dos bondes, em homenagem aos nossos antigos passageiros e tripulação, protagonistas de muitas histórias como esta.








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