segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Jazz Carris

Pesquisando em nosso acervo, encontramos um belo texto sobre o conjunto musical "Jazz Carris" que existiu na Cia. Carris durante a década de 1930. Infelizmente este texto estava sem referências de autor ou data de publicação, mesmo assim optamos por transcreve-lo aqui no blog, já que nele constam curiosas informações sobre a história da empresa.

"Jazz Carris - 1934 a 1939 (provável)"

Em 1934, Mr. Millender, então diretor da Cia. Carris Porto-Alegrense, chamou Paulo Bifone para que este organizasse uma orquestra dentro do quadro de funcionários existentes na empresa, bem como um teatro e um cinema, a fim de proporcionar lazer aos seus funcionários. 
Bifone iniciou uma pesquisa interna com o objetivo de localizar músicos entre motorneiros, cobradores e demais empregados e observou, pelo número de músicos existentes e pela qualidade dos mesmos, que não havia o que chamaríamos de 'músicos de frente', que pudessem encabeçar e levar à frente  tão brilhante ideia. Paulo Bifone voltou a Mr. Millender e lhe disse: 'É necessário que contratemos alguns nomes do meio musical profissional, para podermos criar a orquestra com lastro. Sem eles não há maneira de organizar o que vossa senhoria quer!' Mr. Millender respondeu que os músicos em que questão poderiam ser contratados desde que os mesmos viessem  trabalhar na Carris.
Desde aquele momento vamos encontrar o Marino dos Santos, contratado como músico, mas trabalhando como motorneiro e assim por diante. Aí teremos o Ulisses Bernardi, que irá ser diretor de Jazz, violino, sax tenore funcionário dos escritórios da Carris. Breno Baldo (sax alto) era outro contratado. Ernani da Tristeza (pistão), Luiz "Americano" (bateria), advindo do Jaz Espia Só e, por último, o alemão Hans 'Guampa' (bom pianista) e o cantor Garcia são colocados em setores diversos para continuarem com as lides musicais. 
Em todos os carnavais (Mr. Millender era fã incondicional desta festa) o Jazz Carris divertia os quase quinhentos funcionários, juntamente comk os seus familiares. Organizavam-se verdadeiras festas dentro da Carris, que em certa época também contratava o regional de Piratini para atuar no teatro com pequenas esquetes, bem como tocar números muicais. Dava gosto observar e participar dessas festas da empresa  (...).
A composição do Jazz Carris (por ela passaram bons músicos) durante algum tempo, levando em consideração uma foto dos idos de 30, era: Ernani da Tristeza (1º pistão), Fábio (2º pistão), Tomazini (trombone), seu irmão Tomazini II (baixo tuba), Artur (3 sax alto), 'Mandarico' (1º banjo), Paulo (2º banjo), Hans 'Guampa' (piano), como cantor, Garcia, tendo na direção musical o competente Ulisses Bernardi (violino e sax tenor) e Luiz "Americano" (bateria). 
Este foi, talvez, um dos momentos mais importantes da música popular brasileira em Porto Alegre, na alegre década dos 30". 




quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Pedro Raymundo: o gaúcho alegre.

O compositor, cantor e gaiteiro Pedro Raymundo foi o primeiro "gaúcho" a "amarrar o cavalo no obelisco", ou seja, foi o primeiro gaúcho pilchado a tomar o Brasil de assalto com a música e a cultura do Rio Grande do Sul. Nascido em Santa Catarina no ano de 1906, Pedro Raymundo chegou a Porto Alegre em 1929, ano em que começou a trabalhar na Cia Carris Porto-Alegrense como conductor de bondes (como os atuais cobradores eram conhecidos na época). Aqui na empresa ele foi integrante do "Jazz Carris". Quando não estava trabalhando, mostrava seu talento musical com a sanfona nos cafés do Mercado Público. Começou a pegar gosto pelo folclore gaúcho e passou a se apresentar em programas de rádio. 
Em 1943, decidiu viver de música e partiu para o Rio de Janeiro. A então capital da República vivia o apogeu da Era do Rádio, e o sanfoneiro logo conseguiu apresentações na emissora Mayrink Veiga, depois na Tupi, Tamoio, Guanabara, Globo e Nacional.Usando sempre a vestimenta típica do gaúcho, Pedro Raymundo passou a ser conhecido como o "gaúcho alegre". Em 1945 relembrou os tempos de Carris com a canção "Segura o Bonde". 
Em entrevista para o jornal "Pasquim", Luis Gonzaga citou Pedro Raymundo como uma de suas inspirações: "Quando eu mandei buscar meu chapéu de couro no sertão eu já estava vendo Pedro Raymundo na rádio Nacional, abafando. Aquele gaúcho alegre, tocando, dançando improvisando, fazendo versos e conversando, contando prosa. Eu disse: 'ah, meu Deus do Céu, ele no Sul e eu no Norte. Vou imitar este senhor, mas ninguém vai perceber que eu estou imitando. Ele é gaúcho e eu vou ser cangaceiro. Eu queria cantar o Nordeste, eu já estava cheio daquela gravatinha. Então, eu encostei o burro em cima do Pedro Raymundo".