sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Dia da Consciência Negra

     Ontem foi dia 20 de novembro, Dia Da Consciência Negra. Quarta-feira foi aprovado pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre o projeto de lei que declara o dia 20 de novembro como feriado municipal. O projeto  é de autoria do Vereador Delegado Cleiton (PDT). O dia 20 de novembro passará a ser o  Dia da Consciência Negra e da Difusão da Religiosidade. Desta forma, as religiões de matriz africana estarão representadas nesta homenagem.
     Já comentamos em outras ocasiões, que uma empresa com a história da Cia. Carris contempla diferentes aspectos da vida social da cidade. Assim sendo, quando falamos da história da Carris estamos também falando da história de Porto Alegre, e mais significativo que isso, estamos falando sobre a memória afetiva de muitos porto-alegrenses. Dentro deste raciocínio, postaremos a seguir um texto encontrado em um jornal denominado: "O Jornal dos Afro-Umbandista". O título do texto é "O Motorneiro", infelizmente este material nos chegou em mãos através de um xerox, não temos o nome do autor e nem a data e página do jornal.

"O Motorneiro

Há passagens na minha vida que marcam historicamente a evolução dos tempos, trazendo recordações de uma Porto Alegre antiga. Lembro-me que nos anos 50, na Avenida João Pessoa, quase em frente à Praça da Redenção, ficava a garagem dos bondes de Porto Alegre, pertencentes a Cia. Carris. Ao lado tinha o bar de um português que fazia pastéis com carne picada a faca, ovo cozido e azeitonas, coisa de deixar neguinho vesgo de tanto comer, principalmente se acompanhado por uma grapette. Tínhamos que ter cuidado ao comer aquele enorme pastel, porque, além do risco de queimar a boca (eles eram fritos na hora), uma mordida mais afoita poderia quebrar os dentes em um caroço de azeitona. Até hoje tenho a impressão de nunca ter comido pastéis maiores e mais substanciosos que aqueles. (...) 
Sempre que o meu pai ia visitar o seu amigo Danilo na garagem dos bondes, eu corria para a garupa de sua bicicleta Monark, de cor preta, pensando nos pastéis do Portuga. A profissão dos homens que conduziam os bondes era o de motorneiro, o que correspondia nos dias atuais aos motoristas de ônibus. Além disso, tinham os bilheteiros, ou hoje, cobradores de ônibus. Na minha memória estas duas profissões eram verdadeiras poesias, devido aos movimentos e a forma de atuação dos homens durante o trabalho. O motorneiro dirigia o bonde em pé e o bilheteiro caminhava por todo o bonde pedindo os bilhetes e os perfurando-os com uma estranha maquineta. Lindo!
(...) Negro Danilo dirigia o bonde que saía da frente do Hospital Psiquiátrico São Pedro, no Partenon, passava pela Bento Gonçalves e João Pessoa e terminava na Riachuelo, esquina com a Borges de Medeiros, em frente a padaria Touro. (...) Agora, o mais importante era que o negro Danilo era um Babalô do Batuque, considerado uma fera no tambor e no canto dos Orixás, mestre das danças e coreografias de encher os olhos. (...)Os passos do negro Danilo tinham a leveza de uma pluma, seus movimentos eram ritmados e harmônicos. As coreografias que executava tinham uma suavidade tal que era capaz de inebriar quem o visse dançar. Sua expressão corporal traduzia o amor pelos Orixás, cantava com um sorriso na cara e os olhos brilhando de emoção (...)."

O texto é bastante grande, continua contando muitas histórias do Babalô Danilo, ex motorneiro da Cia. Carris. Nós, pelo nosso lado, ficamos felizes por dar um pouco de voz a estas belíssimas histórias que passaram pela Carris ao longo desses 142 anos de história compartilhada com os porto-alegrenses. 
Fica feita assim, uma pequena homenagem aos muitos trabalhadores negros (sendo ou não sendo de religiões de matriz africana) que passaram ou ainda estão na Cia. Carris! 



quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Jornal "O Transviário"

Semana passada recebemos um material produzido pelo senhor Pedro Carneiro Rodrigues. Este senhor é um antigo funcionário da Cia. Carris, sendo que ingressou na empresa no ano de 1938 como motorneiro. O trabalho produzido pelo senhor Pedro é bem autobiográfico, nele são narradas as suas experiências no Sindicato dos Trabalhadores da Cia. Carris. Entre as várias histórias interessantes que o senhor Pedro conta, destacamos a da criação do jornal "O Transviário" em 1961. 
Temos atualmente o jornal "Volante", que é produzido na empresa e distribuído entre os funcionários.  Poderíamos dizer que "O Transviário" é um antecessor do "Volante", com a diferença de que o primeiro era produzido pelo sindicato e não por um setor interno da Carris. Transcrevemos a seguir o trecho do material do senhor Pedro em que ele conta como foi criado o jornal "O Transviário":

"(...) Em março de 61, nasceu o jornal "O Transviário", que possuía a seguinte diretoria: Diretor: Martíner de Araújo Lopes, Secretário: Rubens Pereira de Frúas, Tesoureiro: Sérgio Coimbra Duarte, Comissão de Propaganda: Antenor Borges Clavê, Pedro Carneiro Rodrigues, Mário Dias Ramos e Leoni Leite. Conselho Fiscal: Waldomiro Pereira Barth, Roque Piffero Marques e Marcino Ribeiro Netto. 
Como membro da comissão de propaganda, visitei várias casas comerciais em busca de patrocínio em troca de propaganda no jornal. Junto com o senhor Gusmão Souza, requisitado pelo Sindicato, datilografávamos as matérias para serem publicadas. Eu fazia a paginação e levava para a tipografia imprimir as matérias. Quando saiu a primeira edição do jornal, fui de madrugada para as estações de bondes da Carris para entregar os jornais aos assinantes e vendê-los aos não assinantes. Eu fazia o meu serviço nas horas de folga.
O senhor Rubens Pereira de Freitas, Secretário do jornal, fazia a distribuição do jornal aos deputados, vereadores e outros Sindicatos. Pelo correio enviava o jornal ao Sindicato da Carris do Rio de Janeiro e aos assinantes do interior do estado. Quando havia muito trabalho a fazer, o Sindicato requisitava a minha ajuda (...)".

Postamos a seguir uma imagem da "Mais Bela Transviária", concurso realizado no ano de 1962 com apoio do Sindicato do qual o senhor Pedro fez parte. A bela transviária em questão é a senhora Maria Rosa Vecchio, que trabalhou por várias décadas aqui na Cia. Carris.