quarta-feira, 26 de abril de 2017

Pequenas histórias sobre os bondes

  Consultando o material que temos em nosso arquivo, encontramos uma pasta intitulada: "Textos Interessantes sobre Bondes". Trata-se de uma coletânea de materiais que foram reunidos tendo como ponto em comum a circulação dos bondes elétricos em diferentes cidades brasileiras. Acreditamos que estes textos foram reunidos em um momento em que o acesso à informação pela internet não era tão simples como hoje, tornando necessária a organização material de uma pasta com arquivos impressos.         
   Praticamente nenhum destes materiais tem especificada a fonte das informações, a maioria deles não tem também dados básicos como o ano em que foram escritos ou coletados. Esta situação dificulta bastante o nosso trabalho na hora de citar estas informações, mesmo assim, há relatos curiosos que iremos transcrever  para os nossos leitores. 
  Um dos dados interessantes encontrados é a origem do termo bonde, em um dos textos citados é explicado: "A palavra 'bonde' tem sua origem na palavra inglesa 'bond', que significa bônus, título, obrigação. Essa palavra só existe no Brasil; esse meio de transporte, dependendo de suas características, recebe nomes como 'elétricos' em Portugal, 'tranvía' em países de língua espanhola e 'tran', 'trolley' ou 'streetcar' em países de língua inglesa."
   Em um texto publicado no jornal  "Jangada Brasil", do município de Palhoça em novembro de 1999 são contados fatos sobre os bondes mortuários, que sabemos que também existiram em Porto Alegre: "(...) Havia bondes mortuários com formatos especiais, preços tabelados conforme a classe, com o fim exclusivo de levar caixões de defunto para o cemitério. Os cheios de cortinas e safenas, plumas e tapetes, eram para os ricos. Para os pobres existia o franguinho d'água quase nu de adornos com umas modestas safenas, que voavam quando o veículo corria os trilhos. O bonde-misto, conduzindo ao mesmo tempo o defunto e os acompanhantes era ainda mais modesto. Para os remediados contava-se com um discretamente decorado, com laços e cortinas pretas que lhe dava um aspecto sinistro de morcego (...)". 
   Um outro texto que tem como título "BH 100- Lembranças dos Bondes", apresenta  pequenos relatos de aventuras e vivências na época dos bondes. A partir do título da publicação fica fácil deduzir que são textos sobre a cidade de Belo Horizonte. Muitas destas memórias são de antigos "moleques" lembrando de suas traquinagens de crianças, histórias que também são muito escutadas por nossa equipe quando recebemos visitas em nosso ônibus Memória Carris. Em um dos relatos, por exemplo, é dito: "(...) Para a turma de garotos da vizinhança, fãs de bolinha de gude, rodar pião, soltar papagaios, jogar benti-altas, mãe-da-rua, polícia e ladrão, pique-esconde e andar velozmente em carrinhos de rolimã, o bonde era um amigo permanente, companheiro temido nas brincadeiras de rua. 'Altas, lá vem o bonde' (...)". 
Outra história lembrada continua narrando molecagens: "(...) Nas lutas aladas entre papagaios de papel, a arma fatal importada do Rio de Janeiro, o cerol, pó de vidro colado à linha do carretel, cortava como faca as linhas dos oponentes. A preparação exigia vidro moído bem fino, misturado às colas artesanais. O bonde ajudava nesta tarefa: púnhamos cacos de vidro sobre os trilhos, e nos escondíamos no lote vago para assistir ao massacre dos mesmos pelas rodas do vagão enorme e barulhento, com seu peso descomunal. Depois era só recolher cuidadosamente o pó compacto. Resultado perfeito! (...)".